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Volta às aulas em São Paulo: 63% dos paulistanos são contra, diz Ibope

Pais consideram que não vale à pena arriscar a vida de estudantes e profissionais da educação para garantir a volta as aulas em São Paulo

Wokandapix/Pixabay
Wokandapix/Pixabay
O momento é de aumento de casos de covid-19. A pandemia não passou. Embora o presidente, Jair Bolsonaro, tente diminuir a maior tragédia sanitária em mais de 100 anos no mundo, a realidade é contrastante

São Paulo – A volta às aulas em São Paulo é rejeitada por 63% dos paulistanos, mostra a pesquisa Viver em São Paulo – Pandemia, realizada pelo Ibope em parceria com a Rede Nossa São Paulo. Apenas 26% dos entrevistados foram favoráveis, enquanto 11% não souberam opinar. A maioria dos entrevistados avalia que não vale a pena arriscar a vida de estudantes e profissionais da educação para retomar o ano letivo. E também não acredita que a rede de ensino terá condições de garantir o distanciamento e a higienização rigorosa dos ambientes das escolas.

Um terço dos entrevistados apontou temor com o aumento da circulação de pessoas nas ruas e no transporte coletivo. Estima-se que só na capital a primeira fase da volta às aulas, com 35% dos estudantes, leve a uma mobilização de 700 mil pessoas diariamente. Com todos os estudantes, chega-se a 2 milhões de pessoas se locomovendo todos os dias, entre estudantes, familiares e trabalhadores da educação. O governo de João Doria (PSDB) deve se posicionar amanhã (7) sobre a proposta de volta às aulas em 8 de setembro, de acordo com o Plano São Paulo.

A pesquisa corrobora o posicionamento de pais, professores, médicos e ex-secretários da Educação, que se posicionaram contra a volta às aulas em São Paulo em protesto virtual realizado na última terça-feira (4). Os participantes destacaram que é mais urgente garantir uma boa estrutura, preparar as escolas e orientar os profissionais da educação durante o próximo semestre. E que será preciso garantir muito mais recursos para que essas ações sejam efetivadas.

Tudo sobre volta às aulas em São Paulo

“Não dá para voltar. As famílias estão com medo. Falamos que as crianças não aprendem com fome. Será que elas vão aprender com medo? Será que os professores vão conseguir ensinar com medo? Falam que vão adequar as escolas. Quem não conseguiu podar as árvores, limpar caixa de água, limpar calhas, no início deste ano, vai garantir uma volta segura?”, questionou a ex-secretária Maria Aparecida Perez (2003-2004).

Disseminação

Kézia Alves, do Conselho de Representantes dos Conselhos de Escola (Crece), destacou que as famílias de estudantes também são majoritariamente contra a volta às aulas em São Paulo. E que a discussão devia ser sobre a situação das famílias. “Devia estar discutindo a garantia de alimentação, a garantia de acesso ao ensino remoto, como cuidar das crianças que estão psicologicamente abaladas. Estamos exaustos de falar que não queremos essa volta às aulas. E o governo não escuta. Falamos em lives, falamos em audiências públicas, mas não adianta”, afirmou.

Médicos também têm se posicionado contra a volta às aulas em São Paulo. Sobretudo pelo risco que isso vai representar para os familiares dos estudantes, sobretudo idosos.

“As crianças saem de casa e vão para escola, trocam material biológico entre elas e voltam para casa. E as pessoas ficam doentes em casa. O isolamento social deu certo porque elas estão em casa. Quando elas voltarem às aulas serão naturalmente disseminadoras de vírus, bactérias, que é o natural da vida. Se voltarmos as aulas vamos ter explosão de casos de covid-19 e de outras doenças típicas do inverno. Eu não abriria as escolas, eu não correria o risco de abrir as escolas. Não pelas crianças, mas pelos familiares das crianças”, afirmou o sanitarista Gonçalo Vecina.

O doutor em infectologia Hélio Bacha, médico do Hospital Albert Einstein e consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia considera que, sem vacina e nem medicamento eficaz, o isolamento social é a única medida efetiva de controle da pandemia. E a suspensão das aulas presenciais “é fundamental para manter a condição de isolamento eficaz”. “Eu não sei quando vai reabrir (as escolas). Mas sei que agora não deve. Nessa condição de agora, até acenar com a possibilidade de reabertura em setembro é uma sinalização equivocada para a sociedade. Certamente as UTIs estão em níveis melhores, mas a epidemia ainda está ativa”, defende.

Precipitado

O estado de São Paulo não atingiu as metas para que a volta às aulas pudesse ocorrer a partir de 8 de setembro. Segundo os critérios elaborados pelo Comitê de Contingência do Coronavírus do governo Doria, seria preciso que, por pelo menos 28 dias consecutivos, todas as regiões que compõem o estado estivessem na fase 3-amarela do Plano São Paulo, que coordena a flexibilização da quarentena. No entanto, hoje ainda há quatro regiões na fase 1-vermelha, a mais restrita.

No entanto, duas semanas atrás o governo ensaiou afrouxar as regras da volta às aulas, indicando que poderia implementá-la com um período menor de tempo na fase 3-amarela. O comitê de saúde está reunido hoje para discutir o tema.