Ministério da Educação

Decotelli foi massacrado por ser negro?

“Não vejo dessa forma. Negro e branco que cometem o mesmo delito são negro e branco que cometeram o mesmo delito”, diz Benedita da Silva

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Ex-futuro-ministro foi objeto de discussão em torno da questão racial

São Paulo – Primeiro negro a ser indicado a ocupar uma posição na Esplanada dos Ministérios do governo de Jair Bolsonaro, o ex-futuro ministro da Educação Carlos Decotelli foi objeto de discussão nos meios de comunicação e redes sociais em torno da questão racial antes e depois de perder o cargo que sequer assumiu. Acusado de mentir sobre sua carreira acadêmica, Decotelli teria “apanhado” mais do que os brancos nomeados no governo?

“Não vejo dessa forma”, diz a deputada federal Benedita da Silva. “Negro e branco que cometem o mesmo delito são negro e branco que cometeram o mesmo delito, mais nada”, diz.

“Sinceramente, ele cometeu o que os outros cometeram, porque quem aceita estar no governo no Bolsonaro é isso mesmo. Temos denunciado o que tem acontecido: mentiras, desrespeito, quebra de decoro, tudo isso que está havendo”, acrescenta a parlamentar.

Para ela, Abraham Weintraub, “um desastre”, ou Decottelli – assim como o país não ter um ministro da Saúde que entenda dos problemas da pasta – apenas mostram um “desgoverno tremendo”.

Em fevereiro de 2019, o The Intercept Brasil revelou que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um dos mais polêmicos do governo, não estudou na Universidade Yale (Estados Unidos), muito menos tem título de mestre em Direito Público pela instituição americana, informações que constavam de crédito de artigo assinado pelo ministro na Folha de S. Paulo em 2012.

A pasta da Educação de Bolsonaro parece fadada a ter  problemas de currículo. Como o do ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez, antecessor de Weintraub, que tinha 22 erros sobre produção de livros e outros, mesmo com ele ainda no ministério, de acordo com o site Nexo.

Disposição para “destruir”

Quando da nomeação do economista Decotelli, o educador Douglas Belchior, integrante da Uneafro Brasil e da Coalizão Negra Por Direitos, se manifestou. “Enquanto movimento negro, vamos cobrar políticas educacionais comprometidas com a diversidade e inclusão, tal qual faríamos com qualquer outro”, disse, no site Alma Preta.

Para Belchior, “a cor da pele não define nem o caráter, nem a ideologia”. Na matéria, o professor acrescenta: “O novo ministro é um militar alinhado com Bolsonaro, tem perfil conservador e é comprometido com os interesses do mercado. É um ministro do governo Bolsonaro que, por sua vez, já demonstrou que ministros que não se alinham ao bolsonarismo têm vida curta no governo”.

No próprio dia da nomeação do já ex-ministro, o jurista, filósofo, escritor e professor Silvio Almeida contestou a “comemoração” dos que eventualmente viessem saudar o fato de  “finalmente temos um negro no Ministério da Educação!”. “Isso demonstra como a manipulação da identidade racial é feita”, escreveu, nas redes sociais. Para ele, a análise correta seria sobre se a nomeação é ou não técnica.  

O que é relevante, apontou, são questionamentos sobre o que um técnico pode fazer em um “governo disposto a destruir o país”. E sobre o que faria o ministro diante dos grandes problemas da educação em um governo influenciado pelo negacionismo.


Redação: Eduardo Maretti – Edição: Paulo Donizetti de Souza