Pandemia

Carreata de professores denuncia que volta às aulas em setembro é ‘prematura’

Docentes fazem ato em São Paulo em defesa de segurança ante a covid-19. “Diante da falta de estrutura das escolas, volta às aulas é colocar estudantes em risco”, diz Bebel

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O governo de Tarcísio de Freitas insiste em política de enxugamento de recursos pela educação com histórico de fracasso em SP

São Paulo – Para a presidente do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) e deputada estadual Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel (PT-SP), a previsão de voltas às aulas presenciais para o dia 8 de setembro na rede pública de São Paulo é “prematura”. A medida anunciada pelo governo de João Doria é duramente criticada pela entidade e docentes que, nesta terça-feira (7), protestam em defesa da vida da comunidade escolar. 

O movimento sairá em carreata, a partir das 14h, da subsede da Apeoesp na Vila Mariana, zona sul da capital paulista, cobrando por segurança e para que o retorno ocorra após uma queda constante no número de casos de coronavírus no estado. Com mais de 323 mil casos confirmados da covid-19 e 16.134 vidas perdidas, a realidade de baixa no número de infectados e mortes ainda parece distante de acontecer. 

Ainda assim, o governo Doria prevê que, a depender de uma melhora significativa no quadro da pandemia, as aulas poderão ser retomadas se todo o estado avançar e permanecer na fase 3-amarela do Plano São Paulo por 28 dias seguintes. Reportagem da RBA identifica que apenas a capital e duas sub-regiões da Grande São Paulo estão nessa fase da flexibilização. 

Não há estrutura

Em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, Bebel fala em “pressão por parte dos empresários da educação” para o anúncio das medidas. A data de retomada vale tanto as escolas públicas como privadas. A presidente da Apeoesp destaca a preocupação com a falta de estruturas das escolas estaduais. O governo fala em retomada gradual, com apenas 35% dos alunos presencialmente, na primeira fase. Mas, “não basta diminuir o número de alunos. Precisa saber se aquelas salas de aula têm circulação, se tem condições de funcionamento. Ele vai fazer uma reforma ou vai abrir a porta para entrar todo mundo?”, questiona Bebel. 

Auditoria realizada, em agosto de 2019, pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), constatou diversos problemas na rede pública de ensino, inclusive no fornecimento de água e banheiros. A presidente da Apeoesp lembra que ausência dessas estruturas impede o processo de higienização e mesmo de distanciamento social nas salas de aula. O que poderia expor ao risco do novo coronavírus não só os estudantes e professores, mas a população para fora dos muros das escolas. 

Conclamar a sociedade

“Ele (Doria) não tem compromisso com a vida”, destaca. “Isso é uma gravidade profunda, fazer a escolha pela economia, pelo dinheiro, em vez da vida, ela é muito difícil. Eu reconheço que em termos de conteúdo, até pela escolha feita do governo de São Paulo, haverá defasagem. Mas nós, professores, podemos fazer um mutirão, podemos fazer os anos 2020 e 2021 caminharem juntos. Tem um sistema de círculos que a gente pode fazer articulando os conteúdos. E avaliando o tempo todo para ver se o estudante está apto ou não para mudar de etapa”, propõe a deputada estadual. 

A carreata na tarde desta terça também ressalta o protesto pelo Fundeb permanente. E visa sensibilizar a população quanto aos riscos de uma retomada sem segurança. “A gente conclama. Essa carreata é para conclamar os pais, a sociedade, não podemos deixar isso acontecer”, conclui.