Distorção proposital

Debate sobre “ideologia de gênero” é falso e pretende invisibilizar grupos oprimidos, diz educadora

"Preocupa que a escola seja o espaço do não dito, da opressão, onde jovens e crianças não possam se manifestar ou ter dúvidas", diz formadora do projeto Respeitar é Preciso

Arquivo/EBC
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Crislei de Oliveira Custódio diz que o verdadeiro debate está em explicar que há diferença entre sexualidade e identidade de gênero

São Paulo — Formadora do projeto Respeitar é Preciso, do Instituto Vladimir Herzog, Crislei de Oliveira Custódio critica a discussão distorcida promovida pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), o governador João Doria (PSDB) e grupos conservadores sobre o que eles chamam de “ideologia de gênero”. A educadora explica que o conceito não existe e apenas serve para confundir o debate sobre as diferenças entre sexualidade e identidade de gênero. Para ela, entretanto, o discurso distorcido não é causado pela ignorância, pelo contrário, tem a pretensão de invisibilizar determinados grupos e reafirmar a agenda conservadora.   

“Há toda uma pauta política que está sendo cravada, essa sim a partir de uma ideologia. É a ideologia da ‘ideologia de gênero’. Enquanto tema acadêmico, isso não existe. O que existe é um debate em torno das questões de gênero, de entender que há diferença entre sexualidade e identidade de gênero, e que isso passa pelos direitos das pessoas, como elas se introduzem no mundo”, explica Crislei de Oliveira Custódio, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

“Há toda uma mistura nessa suposta ‘ideologia de gênero’ em que já não há mais compreensão de que gênero é uma coisa e sexualidade é outra coisa. Tem toda uma mistura dentro de um discurso que tenta se afirmar a partir de um axioma que é inválido”, enfatiza a educadora.

Nos últimos dias, Bolsonaro orientou o Ministério da Educação (MEC) a preparar um projeto de lei que proíba a “ideologia de gênero” nas escolas. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) mandou recolhe apostilas que continham explicações sobre identidade de gênero, sexo biológico e orientação sexual.

Para Crislei, a tentativa de tornar esses temas proibidos no contexto educacional e escolar parte do erro de acreditar que escola pode incentivar a criança a “escolher” sua sexualidade. “É fundamental que os jovens tenham acesso a essas questões. Preocupa que a escola seja o espaço do não dito, da opressão, onde jovens e crianças não possam se manifestar ou ter dúvidas.”

A formadora do projeto “Respeitar é Preciso” será mediadora da mesa “Educação pela igualdade de gênero”, no seminário sobre violência contra as mulheres que o Instituto Vladimir Herzog realiza, em Brasília, nesta quinta (5) e sexta-feira (6).

Confira a íntegra da entrevista abaixo: