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Cortes em bolsas devem aumentar a dependência externa do Brasil

Efeitos poderão ser sentidos no dia a dia da população, se pesquisas sobre pesca predatória e emissões de poluentes, por exemplo, forem descontinuadas

Reprodução/TVT
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"A partir da nossa pesquisa, e de diversos institutos de outros estados, a gente consegue dizer se um peixe deve ser pescado ou não”, explica oceanógrafo

São Paulo – Participantes da 1ª Feira de Ciências dos Institutos de Pesquisa e Universidades Públicas de São Paulo promovida pela Assembleia Legislativa alertaram nesta quarta-feira (5) para os danos irreversíveis que os cortes de bolsas definidos pelo governo Bolsonaro podem causar no desenvolvimento científico do país. Uma das principais consequências é o aumento da dependência externa, já que tecnologias que poderiam ser desenvolvidas por aqui terão que ser adquiridas de outros países.

Nesta semana, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciou o cancelamento de 5.613 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Nos oito meses do governo Bolsonaro, já foram extintas 11.811 bolsas de estudos.

Intitulada “Feira Alesp Consciência”, a exposição dos trabalhos dos pesquisadores é uma iniciativa da deputada estadual Beth Sahão (PT), que é presidenta da Frente Parlamentar em Defesa das Instituições Públicas de Ensino, Pesquisa e Extensão no Estado de São Paulo. “Na medida em que não se investe naquilo que os nossos pesquisadores, professores e cientistas têm condições de fazer, você vai fazer você vai comprar essa tecnologia de fora. Essa feira não é apenas para mostrar aquilo que eles fazem, as tarefas que desenvolvem, os  produtos que eles pesquisam, a ciência que eles produzem, mas é também como forma de trazer aqui um pedido de socorro”, afirmou à parlamentar em entrevista ao repórter Jô Miyagui, para o Seu Jornal, da TVT.

Os cortes também devem afetar a vida da população. O oceanógrafo Leandro Fernandes Patrício, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), estuda o impacto da pesca predatória sobre determinadas espécies. Ele destaca que, se o consumo de peixes é visto como “uma opção” pelos habitantes da capital, é uma atividade vital para populações ribeirinhas. “Quando o peixe é sobrepescado, a quantidade da espécie pode cair tanto que nem os próprios ribeirinhos, que necessitam deles para se alimentar, conseguem tirar esse proveito do mar. A partir da nossa pesquisa, e de diversos institutos de outros estados, a gente consegue dizer se um peixe deve ser pescado ou não”, detalha o pesquisador.

O meio ambiente deve ser outra área afetada. A bióloga Fernanda Mancini Nakamura, também da USP, estuda a liberação de gás metano do fundo do mar. “O metano é o segundo maior gás de efeito estufa, pela sua potencialidade de reter a radiação. Por isso, é tão importante investigar a importância do oceano nessa liberação”, explica a pesquisadora.

O integrante do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) Paulo Jabardo diz que país investiu pesadamente em infraestrutura de pesquisa e capacitação pessoal nos últimos trinta anos. Agora, quando estaríamos perto de “colher os frutos” desse investimento, os cortes nas bolsas podem colocar tudo a perder. “A consequência não é só que o pesquisador não vai publicar um artigo agora. Grupo inteiros de pesquisa vão deixar de existir. Os professores se aposentam, a infraestrutura se degrada e acaba”.

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