Anchieta no 30M

Santuário critica uso político de José de Anchieta e defende Paulo Freire

Projeto de deputado do partido de Bolsonaro tenta tirar título de patrono da educação de Freire. Jesuítas criticam "instrumentalização para fins meramente ideológicos"

Instituto Paulo Freire e Reprodução
Instituto Paulo Freire e Reprodução
Paulo Freire e José de Anchieta estariam juntos na luta em defesa da educação

São Paulo – O Santuário Nacional de São José de Anchieta divulgou nota em que critica um projeto de lei que tem por objetivo revogar o título concedido a Paulo Freire, em 2012, como patrono da educação no Brasil. O PL 3.033/2019, do deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), indica o padre José de Anchieta como o novo patrono.

O parlamentar alega que “não adianta pedir a cassação do título de Paulo Freire sem antes elencar um legítimo nome para ser o verdadeiro patrono”. O presidente Jair Bolsonaro, eleito pelo mesmo partido de Jordy, defende a ideia de retirar o título de Paulo Freire, enquanto seu governo promove corte de recursos em todos os níveis de ensino e perseguição ideológica nas instituições federais.

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O Santuário, no entanto, vê com preocupação a proposta. “Na atual conjuntura governamental de nosso País, não podemos aceitar que o legado de São José de Anchieta seja instrumentalizado para fins meramente ideológicos”, afirma a nota divulgada no sábado (25). O texto ressalta que o padre até mereceria o título já que, como primeiro professor do Brasil, “tinha certeza de que o futuro de uma Nação dependia da qualidade do ensino de crianças e jovens”. Mas pondera que Anchieta não poderia ser proclamado patrono da educação “num momento em que a educação não parece ser prioridade na agenda” do governo.

Segundo os jesuítas, Paulo Freire teve imensa importância para o Brasil e para o mundo. “Ambos (Freire e Anchieta) optaram por estar a serviço da educação dos marginalizados.” A nota é assinada pelos padres Nislon Marostica e Bruno Franguelli, reitor e vice-reitor do Santuário, que é um centro evangelizador localizado no estado do Espírito Santo, e administrado pela Companhia de Jesus.

Os jesuítas tecem ainda sérias críticas ao governo Bolsonaro. “O primeiro defensor do meio ambiente não pode ser admirado em um momento em que nossas riquezas estão ameaçadas. O primeiro indigenista não pode ser reverenciado neste tempo em que vemos tribos étnicas desamparadas e sendo perseguidas e até expulsas de suas terras.”

Os padres encerram com uma oração pelo país: “Que Nossa Senhora Aparecida e São José de Anchieta, padroeiros do Brasil, intercedam pela nossa Nação”.

José de Anchieta foi canonizado pelo Papa Francisco em 2014.