Ignorância

Corte anunciado por governo em ensino de ciências humanas é ‘atitude ingênua’

Campanha Nacional pelo Direito à Educação diz que autonomia universitária é garantida pela Constituição e que proposta do ministro Weintraub não é consistente

Valter Campanato/Agência Brasil

Pensamento crítico é ameaça nas visões de Bolsonaro e do ministro da Educação

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) declarou que o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, estuda “descentralizar” investimentos nas faculdades de Filosofia e Sociologia, apontando para cortes nas ciências humanas. Pelo Twitter, ele afirmou nesta sexta-feira (26) que o objetivo é “focar” em áreas que como veterinária, engenharia e medicina. 

O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, diz que a proposta do ministro revela “enorme desconhecimento” em relação ao funcionamento das universidades públicas, que têm autonomia assegurada pela Constituição Federal – para definir cursos, bem como seus currículos e os investimentos requeridos. Segundo ele, trata-se de “mera propaganda” de um governo que vê a educação como um uma ameaça. 

“É o princípio da autonomia universitária. Quem decide o que deve ser lecionado são as próprias universidades. É um princípio bastante antigo, que fortalece a liberdade de cátedra, presente na Constituição”, diz Cara. Segundo ele, Weintraub está querendo aparecer. “Não tem nenhuma consistência no que está sendo afirmado.” 

Cara lembra inclusive que para uma universidade ser reconhecida como tal é necessário manter cursos nas diversas áreas das ciências humanas, exatas e biológicas. “Não vamos entrar na onda do Bolsonaro”, diz o coordenador, que aconselha esperar pelas medidas administrativas para então fazer o enfrentamento político.

O deputado federal Helder Salomão (PT-ES), que também é professor de Filosofia, citou o educador Paulo Freire para dizer que “seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica.”

O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) também rebateu a proposta, pelo Twitter. “O ataque aos cursos de Filosofia e Sociologia é a cruzada de um presidente fanático contra o pensamento. É um projeto de mediocridade para o país.”

 

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