Cívico-militar

Ministro da Educação quer militarizar escola de Suzano marcada por tragédia

Em audiência na Câmara, Vélez Rodríguez citou o traficante Pablo Escobar como exemplo de quem teve iniciativa para afastar os jovens da violência e consumo de drogas

Marcelo Camargo/ABR

‘Não vou sair’, respondeu Vélez ao ser provocado pelo deputado Ivan Valente (Psol), que sugeriu sua renúncia

São Paulo – O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, defendeu hoje (27), em  audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, o fomento às escolas cívicos-militares como prioridade de sua pasta. De acordo com ele, já há “experiências exitosas” no Brasil, “e essas escolas ajudariam inclusive a promover a segurança dos estudantes”. Tanto que propõe militarizar a Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), palco do massacre neste mês. No entanto, a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo ainda não respondeu. 

Para ele, a violência nas escolas tem ligação com o consumo de crack no país. “O que se passou na Colômbia há 30 anos é o que se está passando no Brasil”, disse o ministro, causando protestos de alguns presentes.

Na sua opinião, o traficante colombiano Pablo Escobar é um exemplo de como afastar os jovens das drogas. “Pablo Escobar tinha reservado campos de futebol para os jovens e uma pequena biblioteca. Com isso, tenho esses jovens aqui e eles não consomem cocaína porque esse produto é de exportação. A ideia de Pablo era não consumir cocaína na Colômbia, porque esse era um produto de exportação”, afirmou, para em seguida defender que o caso expressa como a violência pode diminuir.

O ministro também sustentou que as diversas mudanças no ministério são de cunho administrativo, e não político, e rejeitou as acusações de influência do pensador Olavo de Carvalho nas demissões e nomeações nos três primeiros meses de governo. Durante cinco horas, Vélez respondeu a questionamentos de cerca de 50 deputados.

“Tenho optado por critérios administrativos, não políticos”, afirmou. “Valorizo as ideias gerais do professor Olavo Carvalho; a ideia, que não é exclusiva dele, de formação humanística através da leitura de grandes obras literárias, só isso”, completou. “As análises políticas, as brigas políticas do professor, são outros quinhentos, não tomo conhecimento.”

Influência

O deputado Aliel Machado (PSB-PR), um dos autores do requerimento para o depoimento de Vélez à Comissão de Educação da Câmara, disse que tem a impressão de que o ministro não tem controle sobre o ministério. “Em menos de três meses houve mais de 15 exonerações em cargos estratégicos e importantes e seis recuos no MEC”, citou. Para ele, “pessoas com influência no governo, de fora do país, controlam interesses dentro do ministério”.

Aliel Machado citou a exoneração nesta semana do presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues, após publicação de portaria suspendendo a avaliação da alfabetização no país. Posteriormente, a portaria foi revogada.

Em relação a essa demissão, Vélez Rodriguez afirmou que o diretor do Inep “puxou o tapete”. “Ele mudou de forma abrupta o entendimento que já tinha sido feito para preservação da Base Nacional Comum Curricular e fazer as avaliações em comum acordo com as secretarias de Educação estaduais e municipais”, destacou. “Realmente considerei isso um ato grave, ele não consultou o ministro”, completou.

Diversos deputados, como Marcelo Calero (PPS-RJ), acusaram o ministério de paralisia. “Onde encontro os projetos do ministério? Quando serão entregues?”, questionou a deputada Tábata Amaral (PDT-SP). Para ela, o ministro apresentou apenas carta de intenções.

Já deputados governistas, como Filipe Barros (PSL-PR) e Professora Dayane Pimentel (PSL-BA), afirmaram que a oposição tenta atribuir ao governo que começou há menos de três meses os problemas da educação brasileira.

O ministro compareceu com sua equipe e passou a resposta de algumas perguntas para eles, causando protestos dos parlamentares. Citando declaração do ex-presidente do Inep, que acusou Vélez Rodríguez de incompetência gerencial, o líder do Psol, Ivan Valente, chegou a pedir a renúncia do ministro durante a audiência. “Não vou sair”, disse o ministro. “É um abacaxi do tamanho de um bonde, mas quero retribuir ao país onde fui professor por 30 anos.”

Com informações da Agência Câmara

 

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