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Indígenas constroem próprio curso de licenciatura em parceria com a Unifesp

Apesar da conquista, lideranças temem que projeto seja barrado pela falta de investimento público

TVT/REPRODUÇÃO

Educadora explica que já há uma ferramenta federal para colocar o projeto em prática, nunca divulgada pelo MEC

São Paulo – Preocupados com a falta de formação específica para professores indígenas, 20 lideranças de aldeias paulistas se uniram à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para a construção de uma matriz curricular de um curso de licenciatura adequado às necessidades e à cultura dos povos originais. Entretanto, lideranças têm medo de o projeto esbarrar na falta de investimento do governo de Michel Temer.

Apesar de a Constituição garantir uma educação escolar de qualidade e adequada aos indígenas, em São Paulo os governos estaduais não promovem essa política desde 2009. Na época, a Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu uma grade para a formação intercultural superior de professores indígenas do estado, mas o curso deixou de existir e apenas uma turma foi formada.

Cristine Takuá, educadora na aldeia de Ribeirão Silveira, afirma que a demanda pela licenciatura vem da luta dos professores indígenas. “Através desse fórum de articulação, buscamos parcerias, encaminhamos solicitações de diálogo com diversas universidades e, através da Unifesp, a gente conseguiu construir essa proposta para uma licença”, explica ao repórter Leandro Chaves, da TVT.

A educadora explica que já uma ferramenta para colocar o projeto em prática, mas não há divulgação por parte do Ministério da Educação: o Prolind, programa de apoio à formação superior de professores que atuam em escolas indígenas de educação básica. “A gente tomou conhecimento dele em 2015, a partir daí começamos a pensar na possibilidade de diálogo, porque as próprias universidades desconheciam desse programa”, lamenta. 

A universidade já sinalizou a favor de criar um curso de extensão, mas ainda não há definição para o início das aulas e o tempo de graduação. “A universidade depende de investimento público, em tempos de cortes difíceis para a sua sobrevivência, mas o que depender Unifesp está posto”, diz Débora Galvani, coordenadora de Direitos Humanos da Unifesp.

Atualmente, em São Paulo, há cerca de 1.400 alunos matriculados em escolas indígenas, desde a educação infantil até o ensino médio. Das 252 vagas de professores existentes nas aldeias, 139 são preenchidas por professores que não possuem formação superior

Jurandir é professor há 11 anos e, mesmo sem uma formação superior, ele desenvolve um importante papel na educação de crianças indígenas de etnia guarani, na escola da Aldeia Jaraguá. “Além do idioma eu tento fazer que é que a escola seja menos maçante, juntando as lições de lousa e a cultura”, conta.

Enquanto aguardam o início das aulas, os futuros educadores já sabem o que não pode faltar para o curso. “Tem que saber muito da sua cultura, para que o professor consiga colocar uma disciplina diferenciada para cada aldeia”, diz Katarina Delfina, da aldeia Piaçaguera. 

Assista à reportagem do Seu Jornal, da TVT: