São Paulo

No dia em que Doria anunciaria fila zerada, 57 mil crianças esperavam vaga em creche

No início do mandato, o agora ex-prefeito prometeu zerar a fila da creche até 31 de março de 2018, mas o número de crianças esperando vaga segue aumentando

Aloisio Mauricio/Fotoarena/Folhapress

Doria reafirmou várias vezes a promessa de zerar a fila da creche em São Paulo, mas ficou bem longe da meta

São Paulo – “Era nosso compromisso de campanha e, em 12 meses, até 30 de março do ano que vem, vamos zerar esta fila (da creche)”, disse, em 3 de março de 2017, no lançamento do Programa Nossa Creche, o agora ex-prefeito da capital paulista e pré-candidato ao governo de São Paulo João Doria (PSDB). No dia 30 de março deste ano, quando Doria devia anunciar que tinha zerado a fila da creche, havia 57.819 crianças esperando uma vaga na rede municipal. Doria não teve sequer agenda pública neste dia. A gestão se limitou a dizer que a fila é 34% menor que no mesmo período do ano passado.

A agora gestão Bruno Covas (PSDB), vice-prefeito que assumiu a gestão em 7 de abril, diz que de janeiro de 2017 a março deste ano foram matriculadas em creches 27,5 mil crianças. Além disso, mais 90 convênios foram assinados, o que deve criar mais 14,2 mil vagas. No entanto, como a RBA mostrou em janeiro, a prefeitura matriculou crianças em creches que ainda estavam construção e sem previsão de conclusão das obras, o que torna difícil comprovar os números apresentados.

A promessa de zerar a fila da creche foi feita por Doria ainda na campanha e consolidada no início do ano. Primeiro, o ex-prefeito dizia que a meta era criar 103 mil vagas para zerar o déficit. Ainda em janeiro, o secretário Municipal da Educação, Alexandre Schneider, anunciou que seriam 66 mil. 

Doria disse também que criaria 96 mil vagas até o final da gestão, mas a promessa acabou alterada no Programa de Metas, que propõe o aumento, até 2020, de 30% das 284.217 vagas que haviam no início da gestão. O que totaliza aproximadamente 85 mil novas vagas, já incluídas as 65 mil previstas para 2018. E não cumpridas.

Para ampliar o número de vagas na educação infantil, a gestão municipal realizou medidas como fechar salas de atividades pedagógicas, permitir o aumento do número de crianças por sala e reduzir o atendimento integral de algumas unidades para abrir dois turnos de aula. Essas medidas foram alvo de manifestações de mães de alunos e de questionamentos do Ministério Público.

A gestão também parou de publicar trimestralmente os dados relativos à demanda por educação no portal da Secretaria Municipal da Educação, com números por região da cidade, desrespeitando o Decreto Municipal 47.155, de 2006, e a Nota Técnica 01/2017/CIEDU/Coged, da própria Secretaria da Educação.

Para o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a gestão Doria vem “precarizando” a rede municipal de creches com o pretexto de ampliar as vagas. E, ainda assim, não cumpre com as promessas de expansão. “Ele primeiro vai matando a qualidade, o que já é um erro. E pior, vai matando a qualidade e, de forma muito grave, não tem expandido as vagas na medida em que promete”, afirmou. 

Daniel diz que a atual gestão municipal tem sido “incapaz de compreender” as questões pedagógicas que envolvem os primeiros anos da educação infantil. Segundo ele, para que as crianças recebam o cuidado necessário para o adequado desenvolvimento cognitivo, “é preciso, sim, ter equipamentos com brinquedotecas, bibliotecas, e acesso a insumos, como laboratórios”.

 

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