Conflitos

Contra bullying, educadores defendem prevenção, colaboração e empatia

Casos de violência nas escolas refletem competição e individualismo presentes na sociedade e causam problemas que podem, inclusive, colocar vidas em risco

Arquivo/EBC

Bullying provoca isolamento, baixa auto-estima, dificuldade de aprendizagem, evasão e depressão, entre outras consequências

São Paulo – Para especialistas em educação ouvidos em audiência pública, no Senado, nesta quarta-feira (6), escolas e educadores devem assumir a responsabilidade pela socialização dos alunos e zelar pelo desenvolvimento de valores humanos nas escolas, para construir ambientes educativos “emocionalmente seguros” livres da prática de bullying. “A chave é levar escolas e professores a assumir responsabilidade pela socialização dos alunos e prevenir o bullying mediante a imediata intervenção, pela conversa, debate e negociação”, afirmou a professora emérita da Universidade de Brasília (UNB) Angela Uchoa Branco, coautora do livro Bullying – Escola e família enfrentando a questão.

Segundo ela, casos de agressão e intimidação ocorridos entre alunos exigem atenção e monitoramento contínuo por parte das instituições de ensino e refletem a violência presente no conjunto da sociedade, estimulada por valores como individualismo, competição e intolerância. “Será que estamos reforçando a socialização no sentido da violência, da agressividade, da competição e do individualismo, ou estamos criando condições novas que gerem outro tipo de relação entre as pessoas? Nossa cultura é extremamente violenta. Todos nós experimentamos esse tipo de violência”, questionou. 

Em contraposição, pais e professores devem estimular relações baseadas na cooperação e na empatia, dando exemplo de que a colaboração é o melhor caminho para a resolução de conflitos. Casos de hostilidade, humilhação e perseguições sistemáticas de alunos contra colegas provocam, segundo ela, uma “lista infindável” de consequências, como isolamento social, baixa autoestima, dificuldade de aprendizagem, evasão, depressão, automutilação e até mesmo ideias indutoras de suicídio ou homicídio. 

A audiência foi realizada a pedido da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP). Ela ressaltou pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Alunos que constatou que, no Brasil, 7,5% dos estudantes disseram sofrer alguma das formas de bullying “algumas vezes por mês”; 7,8% disseram ser excluídos pelos colegas; 4,1%, serem ameaçados; e 3,2%, empurrados e agredidos fisicamente.

Já a procuradora de Planaltina (DF) Isabella Banna, autora do livro Bullying, Homofobia e Responsabilidade Civil das Escolas, destacou que o Brasil conta, desde 2015, com com a Lei 13.185, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), mas sem ser aplicado devidamente. Segundo ela, a maioria das escolas ainda desconhece a legislação. 

“São poucas as escolas que aderem ou possuem programa de combate à intimidação sistemática. Quando possuem algum tipo de medida, são pontuais, e em razão do próprio dano. O dano já está instaurado. Não há nada que se faça anteriormente à prática”, afirmou. 

Também participaram do debate a presidenta da Associação pela Saúde Emocional das Crianças, Tania Paris, além de um diretor e outro professor de escolas do entorno de Brasília, que ressaltaram a importância da prevenção, já que o bullying é um tipo de “violência silenciosa” só percebido quando as consequências “nefastas” já são sentidas. 

Marta criticou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, em setembro, autorizou o ensino religioso obrigatório nas escolas públicas. “É um espanto colocar religião como matéria, num país laico, como ensino obrigatório. Agora, querem introduzir sexualidade na aula de religião. Quer dizer, é tudo ao contrário do que se tem que fazer em educação.”  

 

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