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Oposição evita ‘liquidação’ da CPI da merenda na Assembleia paulista

Parlamentares do PT conseguem rejeição de novos requerimentos, o que impediu o encerramento das investigações, como queria a base do governador Geraldo Alckmin

© Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

Estudantes nos corredores na Alesp, durante sessão da CPI da Merenda, que resiste a ouvir depoimentos ‘esclarecedores’

São Paulo – A base do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura pagamento de propina em contratos de fornecimento de merenda na Secretaria estadual da Educação tentou hoje (23) rejeitar um pacote de requerimentos de convocação e aprovar a anulação de outros já aprovados. No entanto, acabou impedida pela atuação de parlamentares do PT, que conseguiram obstruir a votação em massa e levaram à desistência da base governista. “Foi uma vitória. Se o fizessem teriam encerrado a CPI hoje”, afirmou o deputado Alencar Santana.

Entre os requerimentos com indicativo de rejeição estavam a acareação entre o lobista da Cooperativa Orgânica da Agricultura Familiar (Coaf), Marcel Ferreira Júlio, e os ex-assessores do presidente da Assembleia, deputado Fernando Capez (PSDB). Marcel diz ter repassado cerca R$ 650 mil aos assessores, sendo R$ 450 mil para ajudar na campanha do deputado. Eles negam. No entanto, as investigações do Ministério Público revelaram movimentações suspeitas de R$ 122 mil nas contas de Jeter Rodrigues e R$ 500 mil nas de José Merivaldo, auxiliares de Capez.

Também estava prevista para votação a convocação do ex-presidente da Assembleia Leonel Júlio, pai de Marcel, que afirmou à Justiça que Capez conhecia seu filho, e que, tanto ele quanto Jeter, atuaram na campanha do deputado. Capez nega. Já entre as propostas de anular uma convocação já realizada está um pedido para livrar o ex-secretário da Educação Herman Voorwald de ir à CPI. Voorwald foi citado por Cássio Chebabi, ex-presidente da Coaf, como recebedor de R$ 100 mil em propina para manter uma antiga fornecedora de suco laranja da pasta, em vez da abrir chamada pública.

Após muito bate-boca, inclusive com a suspensão dos trabalhos por quase uma hora, os deputados decidiram realizar uma reunião, ainda na tarde de hoje, para fechar um acordo sobre quais depoimentos serão aprovados e quais rejeitados. É dada como certa a rejeição de convocação de pessoas já ouvidas anteriormente.

A oposição diz que vai tentar manter as acareações e os depoimentos de Leonel e Voorwald. “São fundamentais para que haja uma compreensão mais efetiva do esquema. Inclusive para entender qual o destino do dinheiro que Marcel diz ter entregue e que a Justiça demonstrou que foi recebido pelo ex-assessores do deputado Capez. E o ex-secretário teria oportunidade de esclarecer a citação feita a ele”, disse Santana.

O presidente da comissão, deputado Marcos Zerbini (PSDB), defende que o objetivo deve ser chegar a um entendimento para evitar que se perca tempo com convocações que não acrescentem novas informações. “Temos um tempo curto agora. Há pessoas que já estiveram aqui e mentiram ou nada disseram. Precisamos avançar em busca de um relatório final que apresente conclusões efetivas”, afirmou. A CPI tem prazo até o próximo dia 13, mas ainda pode ser prorrogada por 30 dias.

Hoje a comissão ouviu depoimentos de Chebabi e da servidora da Secretaria da Educação Vanessa Alves Vieira Lázaro. O ex-presidente da Coaf confirmou que todo seu depoimento é verdadeiro, mas negou-se a responder às perguntas dos deputados. Em acordo de delação, ele disse que a verba era para pagar propina aos deputados Fernando Capez e Duarte Nogueira, ambos do PSDB, e que tinha de pagar muita gente na secretaria. E que sem isso não conseguiria os contratos.

Já Vanessa disse que seu nome foi usado para validar a abertura da chamada pública de 2013, vencida pela Coaf, depois cancelada. “Eu não assinei nada”, afirmou. Ela, no entanto, não soube dizer quem poderia ter feito isso. A próxima reunião da CPI deve ser na quarta-feira da semana que vem (30).