luta e luto

Estudantes do Paraná definem reivindicações para encerrar ocupações

Assembleia em Curitiba reuniu alunos de mais de 600 escolas do estado para traçar rumos do movimento. Encontro foi marcado por homenagem a estudante morto

reprodução/facebook/ocupaparaná

Em todo o país, 1.047 escolas estão ocupadas, 845 no Paraná; estudantes protestam contra medidas do governo Temer

São Paulo – Estudantes secundaristas realizaram ontem (26), em Curitiba, a Assembleia Estadual das Escolas Ocupadas no Paraná. Alunos de mais de seiscentas escolas, dentre as 845 ocupadas no estado, participaram do encontro, realizado no Colégio Estadual Loureiro Fernandes. Foram levantadas e votadas propostas sobre como devem prosseguir o movimento, iniciado em protesto contra a MP do Ensino Médio e a PEC 241, propostas pelo governo de Michel Temer. O encontro foi marcado por homenagens a Lucas Eduardo Mota, de 16 anos, morto na segunda-feira (24).

Segundo representações dos secundaristas, o país tem 1.047 escolas e institutos federais ocupados, 102 universidades, três Núcleos Regionais de Educação e a Câmara de Guarulhos, na Grande São Paulo. Os estudantes protestam contra a reforma do ensino médio por meio da Medida Provisória (MP) 746. Também é alvo de críticas a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 que prevê o congelamento dos investimentos públicos em áreas como saúde e educação por 20 anos, com reajustes condicionados à inflação do ano anterior.

A assembleia dos estudantes paranaenses resultou em diversas propostas, entre elas cinco centrais que devem nortear as ocupações no estado. “Elencamos as principais propostas em caráter de urgência para que todos possam saber o que foi decidido de mais importante”, afirmam. De acordo com o movimento, os textos, cartas e listas completas de pautas estudantis devem ser divulgadas nos próximos dias. Entre outras, ele exigem que o governo do Paraná vete a aplicação da MP 746 no Estado.

1- Criação de um decreto que garanta a promessa do governo do estado que disse que irá vetar a aplicação da MP 746/2016 no Estado do Paraná.

2- Garantia de anistia para que não existam perseguições, demissões, ameaças aos estudantes, professores, pais e simpatizantes que ocupam e apoiam as escolas ocupadas.

3- Garantia da realização de uma Conferência Estadual Livre e Aberta pela Reforma do Ensino Médio no estado do Paraná, para debatermos com toda a sociedade sobre a precarização do ensino e as condições das escolas publicas no Paraná, visto que, se não aceitamos a proposta de Temer, também não queremos que o governador decida sozinho sobre a reforma que queremos aqui no estado.

4- Exigir que o governo federal, na instancia do MEC e com a ajuda do governo estadual e municipal de cada cidade, realoque os locais de prova do ENEM, assim como a UFPR fez com o vestibular e o TRE fez com as eleições.

5- Prazo de sete dias para o Governo de o estado atender todas as nossas exigências a partir da data da divulgação do documento completo.

Para finalizar informamos também que NÃO HÁ nenhuma orientação para desocupação de escolas, entendemos em assembleia que esta decisão cabe APENAS ao conjunto dos estudantes de cada escola e não é uma decisão coletiva. Sendo assim, os estudantes em cada escola podem decidir se vão ou não desocupar suas escolas. Na assembleia, no entanto ficou claro que não haverá desocupação sem a garantia do atendimento de nossas pautas.

Comunicação
Movimento Ocupa Paraná

 

Homenagens

A morte do estudante Lucas encontrado morto em uma das escolas ocupadas, tomou parte das manifestações da assembleia. O estudante não tinha aderido à ocupação, de acordo com a organização Ocupa Paraná, mas estudava na Escola Santa Felicidade, onde foi morto à facadas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do estado, o autor do crime foi outro estudante, de 17 anos, que está detido. O motivo do desentendimento foi estimulado, de acordo com informações preliminares, pelo uso da droga sintética ecstasy.

Mesmo sendo um episódio isolado entre as milhares de ocupações pacíficas e ordeiras pelo país, o caso acirrou os movimentos contrários às mobilizações dos secundaristas. Ao contrário do que esperavam os que atacam o movimento, o levante contra as medidas do governo Temer não cessaram. Em nota, o movimento Ocupa Paraná lamentou a “triste notícia de que um estudante de apenas 16 anos foi morto em uma escola ocupada”.

“A notícia foi recebida com muita tristeza por todos aqueles que lutam por uma educação pública de qualidade no Brasil. Lucas, mesmo não sendo um dos estudantes que ocupavam a escola, é também vítima de um sistema que oprime e que não corresponde aos anseios da juventude”, continua o texto. “Apesar das diversas correntes de ódio que tomaram conta do estado, o movimento Ocupa Paraná não quer e nem vai culpabilizar ninguém pelo acontecido. Neste momento, queremos apenas prestar solidariedade à família de Lucas, que perde um dos seus para o ódio, para a intolerância e para a violência”, completa.

Também lamentaram o assassinato a União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). “Estamos acompanhando as investigações e vamos exigir das autoridades competentes toda a atenção e cuidado. As entidades lamentam a tentativa de utilizar tal acontecimento trágico como forma de criminalização dos movimentos sociais.”

“Nos solidarizamos com os familiares e amigos, também com os outros estudantes que fazem parte da ocupação no Colégio Santa Felicidade e que passam agora por um momento de muita tristeza e consternação (…) É importante destacar que as manifestações com ocupações de escolas se iniciaram em todo o país há mais de um mês contra a MP 746 e a PEC 241 em, desde o início, são pacíficas e abertas ao diálogo “, completam as entidades.