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‘Foi uma vitória, mas não somos bobos: suspender é diferente de revogar’, diz Upes

Ocupações continuarão até que estudantes tenham garantias que o pronunciamento do governador paulista será cumprido. “Ao contrário de nós, que só temos dois braços, o Alckmin tem vários”, diz aluno

Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Alunos comemoram suspensão da reorganização do ensino, após protesto na Praça da República

São Paulo – Estudantes de diversas ocupações comemoram a suspensão da reorganização do ensino paulista, anunciada hoje (4) pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), porém criticaram o fato de ele não ter cancelado a proposta. As escolas devem permanecer ocupadas pelo menos até que os alunos tenham garantias jurídicas de que o compromisso assumido pelo governador será cumprido.

Às 17h, os estudantes realizarão uma assembleia conjunta na escola Caetano de Campos, na unidade da Aclimação, na zona sul de São Paulo, para definir os próximos passos do movimento, iniciado em 9 de novembro. “A luta teve uma vitória. Nós queríamos a suspensão da reorganização, a saída do Herman (Voorwald, secretário estadual de Educação) e que o Alckmin dialogasse conosco. Tudo isso nós conseguimos, mas não somos bobos. Suspender é uma coisa, revogar é outra”, frisou o diretor da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes) Daniel Cruz.

Pelo pronunciamento de Geraldo Alckmin, o projeto será adiado e durante 2016 será feito um debate, escola por escola, para discutir a reorganização com alunos e pais. “Os alunos vão continuar nas escolas que já estudam e nós começaremos a aprofundar esse debate escola por escola, especialmente com estudantes e pais de alunos”, afirmou Alckmin. Pouco depois do pronunciamento, o secretário Herman Voorwald pediu demissão da pasta, depois de ocupar o cargo por quatro anos. Pelo projeto, pelo menos 93 escolas seriam fechadas e 311 mil alunos, transferidos compulsoriamente.

“Não tem como deixar de falar em vitória, mas a reivindicação é a revogação da medida e revogação não é adiamento”, disse o estudante Alex, da escola ocupada Antônio Alves Cruz, em Pinheiros, na zona oeste da capital. “Ao contrário de nós, que só temos dois braços, o Alckmin tem vários. Quando o Herman cai ele perde alguns, mas continua com outros.”

Os estudantes do Colégio Fernão Dias Paes, também em Pinheiros, já realizaram uma assembleia e decidiram permanecer ocupados até que haja garantias de que a declaração do governador será cumprida. A escola, primeira a ser ocupada na capital paulista, tornou-se um marco no movimento depois de ficar por quatro dias sitiada pela polícia. “A gente não sabe se é só um golpe para sairmos. Temos que esperar. Foi uma vitória, mas ainda pela metade, porque queremos a revogação. De qualquer forma, é muito bom porque o governador vai dialogar conosco no ano que vem. Vamos continuar na luta”, diz a estudante Othilia.

Na página no Facebook “Não Fechem Minha Escola”, que congrega informações sobre o movimento, os estudantes dizem que a postura será de “não desocupar as escolas e não desarticular nossa mobilização. Primeiramente, é preciso aguardar um parecer jurídico oficial que ateste que Alckmin não está manobrando o movimento e a publicação no Diário Oficial”, diz o texto. “Além disso, antes de desocupar, precisamos de outras garantias importantes, como a liberdade de todos os manifestantes atualmente presos e a não punição de ninguém envolvido na luta.”

“Consolidando nossa vitória, nada será como antes para nossa luta em 2016, que deve continuar. Nós, estudantes, provamos o poder que temos!”, continua. “Em 2016, vamos seguir lutando para assegurar mais direitos e derrotar de vez o projeto de reorganização. A coragem e a força que demonstrou o movimento secundarista é irreversível. Ressignificamos o espaço das escolas públicas, que passaram a ter vida política, cultural e em consonância com os sonhos e necessidades de estudantes e das comunidades locais. Nunca a escola pública foi tão ocupada e bem aproveitada como sob o controle dos estudantes.”

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