Estudantes fazem novos protestos, e PM reprime. Três foram presos
Número de escolas ocupadas chega a 208, segundo Sindicato dos Professores. As diretorias de ensino de Sorocaba e Santo André também foram ocupadas
Publicado 03/12/2015 - 13h33
São Paulo – Estudantes bloquearam 11 avenidas de São Paulo na manhã de hoje (3) em protesto contra a “reorganização” do ensino e foram duramente reprimidos pela Polícia militar com bombas de gás lacrimogêneo. Três jovens foram presos na Avenida Faria Lima, na zona oeste e encaminhados para a 15ª delegacia de polícia. O número de escolas ocupadas chegou a 208, segundo o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). As diretorias de ensino de Sorocaba e Santo André também estão ocupadas.
A reorganização feita pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) prevê fechamento de pelo menos 93 escolas e transferência compulsória de 311 mil estudantes. Hoje, promotores de Justiça do Grupo Especial de Educação (Geduc) e da Promotoria da Infância e Juventude da Capital do Ministério Público de São Paulo e defensorias públicas do Núcleo da Infância e Juventude e Núcleo de Direitos Humanos anunciarão na tarde de hoje medidas judiciais que serão adotadas contra o projeto.
Durante o protesto, os estudantes fecharam as avenidas Francisco Morato, Heitor Penteado, Pompeia, Lapa (zona oeste); Estrada da M’Boi Mirim, Ponte João Dias, avenida Giovanni Gronchi (zona sul); Radial Leste, na altura de Itaquera (zona leste); avenida São João (centro); e impediram acesso ao centro de Diadema, no ABC paulista. Além disso, os estudantes travaram as marginais Tietê e Pinheiros, esta última em dois pontos: na altura do Butantã (zona oeste) e do Socorro (zona sul).
Na Avenida São João, a Força Tática da PM reprimiu violentamente os estudantes que fecharam o cruzamento com a Avenida Angélica, jogando bombas de gás lacrimogêneo, com a validade vencida, como denunciaram os manifestantes. Na Avenida Faria Lima também houve uso de bombas de gás, além da “detenção para averiguação” dos três estudantes. A PM também reprimiu violentamente os protestos em Itaquera. Na Marginal Pinheiros, estudantes de Paraisópolis carregaram uma faixa perguntando: “Se o noturno da EE Maria Zilda fechar, quem trabalha não vai mais poder estudar?”
Além das avenidas, os alunos também bloquearam os terminais João Dias e Santo Amaro, na zona sul. Em seguida, saíram em passeara até o Largo 13 e montaram uma sala de aula no meio da rua.
O governo de São Paulo publicou na terça-feira (2), em apenas 166 palavras, o decreto que autoriza a transferência de professores para a implementação da reorganização escolar. O texto não é assinado nem sequer pelo secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, e não menciona que as escolas serão fechadas, apesar de a própria Secretaria Estadual de Educação ter publicado, em 28 de outubro, a lista das escolas que serão “disponibilizadas”, segundo palavras do órgão.
Na manhã de domingo (29), 40 dirigentes de ensino do estado se reuniram com o chefe de gabinete do secretário de Educação, Fernando Padula Novaes, e receberam instruções de como quebrar a resistência de alunos, professores e funcionários. Novaes repetiu inúmeras vezes que se trata de “uma guerra”, que merece como resposta “ações de guerra” e que “vai brigar até o fim”. O áudio foi publicado pelo coletivo Jornalistas Livres, e replicado por diversos sites e blogues, inclusive pela Rede Brasil Atual.
Desde segunda-feira (30), estudantes denunciam que investidas truculentas contra as ocupações têm sido intensificadas pela Polícia Militar e pelos chamados “provocadores”, supostos pais e diretores que criam confusão nos prédios ocupados, para justificar a entrada da PM nas escolas.
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