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Por ‘respeito às escolas’, alunos do ABC mantêm ocupações limpas e organizadas

Jovens vivenciam experiência prática de democracia e demonstram que os vínculos com suas escolas vão além dos conteúdos curriculares

Andris Bovo / ABCD Maior

Fernanda, da Diadema: ‘não mexemos nas salas de aula ou em outros locais da escola’

ABCD Maior – Revezamento por turnos, alunos divididos por funções como limpeza e segurança das escolas, além de cuidar da alimentação e recepcionar a mídia. Em algumas escolas eles cozinham e em outras, sobrevivem de doações de lanches e marmitas. Tudo é muito limpo e organizado. Em toda escola ocupada por estudantes em que a reportagem do ABCD Maior foi convidada a entrar, salta aos olhos a organização e união com que os jovens têm lutado contra a chamada “reorganização” escolar imposta pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB). A Escola Estadual Diadema é um exemplo disso.

“Manter tudo organizado é o maior exemplo que nós, alunos, podemos dar de respeito e vínculo para com a escola. Não deixamos nada bagunçado”, enfatizou Cauê Silva de Albuquerque, 17 anos, aluno do 3º ano do ensino médio. O jovem está na ocupação desde o último dia 9 e dorme no local todos os dias. “Só fui para casa duas vezes, desde então. Se é para ocupar, então vamos ocupar”. Para se manter na ocupação, Cauê toma até banho frio. “Temos um vestiário que está cheio de entulho, então uso a mangueira para tomar banho”, revelou.

Diferentemente de Cauê, Gabriella Pereira Colombini, 15 anos, aluna do 1º ano do Ensino Médio também da E. E. Diadema, só conseguiu ficar na ocupação por alguns dias – “cuido do meu irmão mais novo, que também estuda aqui, então não posso vir todo dia” –, mas mantém firme seu comprometimento com a causa. Nos períodos em que ficou na escola, a jovem participou das atividades, rodas de conversas e da organização “Sempre que posso estou aqui. Às vezes tocamos, conversamos e planejamos as ações; às vezes os meninos jogam bola, outras vezes simplesmente arrumamos a escola”, explicou.

Para Gabriella, a ocupação foi a única forma de chamar a atenção do governo do Estado. “Estávamos fazendo manifestações nas ruas, mas não estávamos sendo ouvidos. Agora, pelo menos, estão prestando atenção em nós.”

Estruturas

Os estudantes que cuidam da segurança se revezam 24 horas por dia. Uns dormem de dia para que possam vigiar a escola durante a noite. “Houve dias em que uma família inteira dormiu aqui. Mãe, pai e os dois filhos alunos”, contou Cauê.

Conforme os dias passam, mais doações e ajuda aparecem na ocupação. “No início só tínhamos colchonetes. Depois ganhamos barracas e colchões infláveis”, destacou Cauê. A ajuda vem de pais, professores, outros alunos e até da Apeoesp (o sindicato dos professores da rede pública estadual).

Apesar de a escola ter dois andares, os alunos ocupam apenas o térreo da escola Diadema. “Ficamos restritos ao refeitório e às vezes usamos os banheiros lá em cima, mas não mexemos nas salas de aula ou em outros locais da escola”, enfatizou Fernanda Freitas, 17 anos, aluna do Ensino Médio e escolhida para ser a porta-voz da mobilização.

A luta tem ainda apoio familiar. Todos os pais dos estudantes da ocupação assinaram um termo de responsabilidade para que os filhos ficassem acampados na escola.

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