desorganização escolar

Alckmin nega fechamento de escolas, mas fala em abrir creches ‘se disponibilizar algum prédio’

Governador justificou melhoria da qualidade com reorganização escolar com base em estudo do Inep, mas instituto nega que tenha dados sobre escolas de ciclo único

Mariana Topfstedt/Fotoarena/Folhapress

Estudantes da EE Souza Pena não aceitam o fechamento da escola e protestam na Secretaria da Educação

São Paulo – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), evitou hoje (21) comentar as manifestações de estudantes e professores contra a reorganização escolar proposta pelo seu governo –  que pode levar ao fechamento de escolas, superlotação de salas e demissão de professores –, e afirmou que “nenhuma escola vai ser fechada”. Segundo levantamento da Apeoesp (sindicato dos professores do estado), pelo menos 163 escolas encerrarão as atividades se a proposta for levada adiante. “Não, o governo não vai. Nenhuma escola vai ser fechada. Você vai reorganizar para ter ciclo único. Você não tem compromisso com prédio, você tem compromisso com escola”, disse Alckmin.

O discurso é semelhante ao utilizado durante o último debate para as eleições do ano passado, para negar que estivesse ocorrendo falta de água na Região Metropolitana de São Paulo. “Não falta água em São Paulo. Não vai faltar água em São Paulo”, disse o governador. As queixas com falta de água subiram 57% no comparativo entre janeiro e julho deste ano e o mesmo período do ano passado.

Minutos antes, porém,o governador havia dito que pretende abrir creches ou pré-escolas nas unidades que ficarem vazias. “Se disponibilizar algum prédio, poucos, eles vão para o ensino infantil. Porque você tem ociosidade no ensino médio e falta de vaga na creche e na pré-escola”, afirmou. As declarações foram dadas no 2º Fórum Nacional da Educação, organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), realizado em um hotel no Itaim Bibi, zona sul de São Paulo.

A reorganização foi anunciada pelo secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, em entrevista ao telejornal Bom Dia São Paulo, da Rede Globo, em 22 de setembro. A ideia é separar totalmente os alunos das escolas estaduais por ciclo – fundamental I, fundamental II e médio. “O movimento é para que escolas de três ciclos não existam mais e se aumentem as de ciclo único. A mãe que tem um filho de sete, oito anos, tenha tranquilidade para que ele esteja em escola com crianças da idade dele”, afirmou Voorwald. O secretário também participou do evento de hoje, mas não quis falar com a imprensa.

Segundo Alckmin, a mudança vai proporcionar um salto qualitativo no ensino paulista. “Qual o objetivo da reorganização escolar? É melhorar a qualidade da escola pública do estado de São Paulo. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do MEC (Ministério da Educação), diz que as escolas que têm ciclo único têm 15% melhor de aprendizado”, disse. A RBA procurou o Inep para ter acesso aos dados, mas o instituto informou não possuir esse estudo.

O governador também defendeu que o ideal, no mundo atual, é o estudante ter uma boa educação básica, com português, matemática e um outro idioma. E formação profissional de nível técnico ou tecnólogo. “Às vezes você se prepara para fazer uma coisa e a vida te leva para fazer outra. O (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso, quando presidente, não colocou o (atual senador José) Serra, que é economista, na Fazenda. Colocou no Ministério da Saúde. Ele, além de não entender nada, ainda é hipocondríaco. E deu Certo. Essa é a característica do mundo moderno”, exemplificou.

Desde que a medida foi anunciada, no mês passado, uma série de manifestações vem ocorrendo em várias cidades, organizada por professores e alunos. Tanto organizações estudantis, quanto movimentos sociais e sindicatos, além de estudantes e seus familiares estão participando de mobilizações para impedir o fechamento de escolas, a superlotação de salas, a demissão de professores temporários e a transferência de cerca de 1 milhão de alunos, segundo avaliação da Apeoesp.

“A reorganização não tem nenhum princípio pedagógico. Vai desorganizar a rede pública. A secretaria devia valorizar os professores, resolver os problemas estruturais das escolas, reduzir o número de alunos por sala, o que asseguraria melhor condição de trabalho aos professores e de aprendizagem aos estudantes”, defendeu a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, durante ato realizado ontem (20), no centro da capital paulista, que uniu professores, estudantes, pais de alunos e movimentos sociais contrários à reorganização.

“O maior problema é que ninguém sabe exatamente o que significa a reorganização”, destacou a presidenta da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Ângela Meyer. Ela acredita que a mobilização tende a crescer conforme mais alunos forem notificados das mudanças e que os estudantes vão conseguir “barrar a desorganização”. “Este seria o momento de reduzir o número de estudantes por sala, por exemplo, melhorando as condições de professores e alunos”, disse.

Alunos e professores da Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, na Vila Albertina, zona norte de São Paulo, protestaram ontem contra o fechamento da unidade que, segundo eles, já lhes foi comunicado. “Isso é só um jeito de o governador cortar gastos. Não vai melhorar nada. O Souza Pena é uma ótima escola, que atende a mais de mil alunos que vão de vários bairros da zona norte estudar lá. Não pode ser fechada”, afirmou o professor de sociologia Camilo Thomás Benedito.

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) abriu um inquérito civil para cobrar explicações do governo Alckmin sobre a iniciativa. Também a Defensoria Pública solicitou informações à Secretaria de Estado da Educação sobre a reestruturação. Os processos estão em andamento.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) anunciou ontem que pretende ocupar as escolas que venham a ser fechadas e mantê-las funcionando. “Estamos juntos na luta contra a reorganização. Vamos parar escolas, estradas, o que for preciso para barrar a medida. Mas se o governador fechar alguma unidade, vamos ocupar e pôr para funcionar”, afirmou a militante Natália Szermeta, coordenadora estadual do movimento.

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