luta por direitos

Servidores públicos do Paraná aderem à greve dos professores

Trabalhadores de Curitiba e cidades do interior realizaram marcha pacífica até o Centro Cívico, com mobilização de 30 mil pessoas. Governo tucano diz que só negocia se professores voltarem ao serviço

Wilson Dias/agência Brasil

Manifestante mostra o adesivo “menos bala, mais giz”, distribuído pela APP depois do massacre de 29 de abril

Curitiba – Dezenas de milhares de servidores públicos do Estado do Paraná aderiram hoje (19) a uma greve geral, unindo forças a cerca de 100 mil professores parados pela segunda vez no ano em uma árdua queda de braço com o governador tucano Beto Richa, contra a perda de direitos que tenta impor ao funcionalismo. Dentro da Assembleia Legislativa, enquanto isso, a base de apoio a Richa dava os primeiros sinais de desgaste.

Servidores de Curitiba e de dezenas de cidades do interior reuniram-se pela manhã nas praças Rui Barbosa e Santos Andrade, ambas na região central da capital paranaense, e protagonizaram uma marcha pacífica até a região do Centro Cívico, onde situam-se as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Paraná.

Numa mostra de que o massacre do último dia 29 poderia ter sido evitado, a manifestação reuniu cerca de 30 mil pessoas em seu auge, por volta do meio-dia, mas o policiamento limitou-se a acompanhar a marcha e organizar o trânsito. Não houve nenhum incidente durante todo o trajeto.

No fim da manhã, representantes do Fórum dos Servidores e da APP Sindicato, que representa os professores, foram chamados para uma reunião com representantes do governo, entre eles os secretários da Casa Civil, Eduardo Sciarra, e das Finanças, Mauro Ricardo Costa.

“Nossos representantes foram para o encontro pensando se tratar de uma negociação, mas logo de cara avisaram a eles que não haveria negociação nenhuma”, comentou o secretário de Comunicação da APP, Luiz Fernando Rodrigues.

Assessores da entidade chegaram a apresentar um estudo segundo o qual o governo teria condições de arcar com a reposição da inflação nos últimos 12 meses, calculada em 8,17%, com base no IPCA (o governo oferece uma parcela de 2,5% à vista e uma segunda parcela de 2,5% sem prazo definido), mas o secretário Sciarra foi enfático ao dizer que o governo aceitaria negociar somente se as categorias em greve voltassem ao trabalho.

“Depois disso não houve condição nenhuma de se discutir nada”, lamentou o deputado estadual Professor Lemos (PT).

Na opinião de Luiz Fernando Rodrigues, não se trata de um problema financeiro. “Essa posição (5% de reajuste parcelado em duas vezes) é uma opção política do governo.”

“Na visão do governo, tudo relacionado a nós é gasto”, declarou a coordenadora do Fórum dos Servidores, Marlei Fernandes. “Nós não vamos pagar a conta de quatro anos de má gestão”, complementou. Dentro da Assembleia, nem mesmo os deputados governistas sabiam dizer quando o governo enviaria aos deputados o projeto de lei contendo alguma proposta de reajuste, mas a coesão da base aliada deu hoje os primeiros sinais de desgaste.

A bancada do PSC, principal pilar da base de apoio do tucano Richa no Legislativo, reuniu-se pela manhã e decidiu que não apoiaria nenhuma proposta de reajuste inferior aos 8,17% que repõem a inflação. O petista Péricles de Souza observou ainda que, mesmo que o governo proponha os 5% parcelados, a oposição pode emendar o projeto com um índice mais elevado se o racha na base governista se confirmar. Para complicar ainda mais a posição de Richa, ele não pode legislar por decreto sobre esse tema, confirmou o deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), líder do governo na Casa.

Seja como for, ainda não há projeto a ser votado. “O governo quer que a greve continue”, provocou o deputado Requião Filho, da ala oposicionista do PMDB. “Na cabeça deles, isso vai fazer os pais virarem de lado”, prosseguiu.

Somadas as duas greves dos professores deste ano, já são 51 dias sem aulas (29 na primeira e 22 na atual). Nos últimos dias, um adesivo apócrifo com a inscrição “menos greve, mais aula” chegou a ser distribuído em esquinas de Curitiba, mas era rejeitado pela maioria dos motoristas. Prevalece nos vidros dos carros o adesivo “menos bala, mais giz”, distribuído pela APP depois de 29 de abril.

Na passeata de hoje, pais e alunos marcharam lado a lado com seus mestres. Entre os servidores em geral, a interpretação é que a intransigência do governo inviabiliza o fim da greve, que agora reúne dezenas de de categorias do funcionalismo e não tem prazo para terminar.

“O sentimento é de revolta e indignação com esse governo”, declarou a professora de Português Flavia Rebelo Miranda, enquanto acompanhava a sessão de hoje nas galerias da Assembleia.

A APP, enquanto isso, orientava os dirigentes dos núcleos no interior a voltar para suas cidades no fim de semana e pressionar os deputados de cada região. Na capital, a entidade montou hoje um novo acampamento, agora em frente à Secretaria das Finanças. “Vamos pressionar quem realmente manda neste governo, que é o Mauro Ricardo Costa, secretário das Finanças”, resumiu Rodrigues.