Bairro do extremo sul de São Paulo ainda aguarda creche pública
Convênio firmado ainda na gestão Kassab deveria funcionar a partir de 2012. Bairro tem pelo menos 4 mil crianças e duas escolas de educação infantil prontas, porém ainda fechadas
Publicado 06/02/2014 - 10h13
São Paulo – Há mais de um ano os moradores do Jardim Gaivotas, no extremo sul de São Paulo, aguardam a abertura da primeira creche pública do bairro, que tem pelo menos 4 mil crianças em idade escolar. A reivindicação começou em 2009, ainda na gestão de Gilberto Kassab (PSD), mas a oportunidade concreta só surgiu em setembro de 2012, quando foi anunciado um convênio com uma organização social para oferecer o serviço, como constatou a RBA, na época. Na última semana, a reportagem voltou ao local e encontrou duas casas reformadas e prontas para receber os alunos, porém ainda fechadas.
Assim, os problemas para os moradores, em especial para as mães, continua o mesmo: a maioria acaba ficando em casa, sem possibilidade de trabalhar ou estudar. As poucas que conseguiram uma vaga em creches de bairros vizinhos, como Jardim Cocaia e Cantinho do Céu, gastam em média duas horas por dia no trajeto, feito a pé. Algumas conseguem pagar em média R$ 70 em transporte escolar privado e há ainda as ques contratam vizinhas para tomar conta dos bebês.
É o caso da diarista Orotildes dos Santos, mãe de sete filhos, duas em idade de creche, com 2 e 3 anos. “A mais velha foi chamada no Cantinho do Céu, mas não pude matricular porque seria muito sacrifício pagar uma perua.” Sua vizinha, Maura Santos, de 18 anos, enfrenta o mesmo problema com a filha de 2 anos: “Inscrevi ela logo que nasceu na creche do Jardim Cocaia e parece que agora vão chamar. Mas pra eu ir pra lá é pelo menos 40 minutos a pé. O ideal seria que abrisse essa aqui.”
Quando for aberta, a creche do Jardim Gaivotas ficará a poucos metros da casa de Maura. A unidade passa pelos últimos retoques, mas já está equipada com livros, televisão, brinquedos, refeitório, banheiros infantis e área para banho de sol. A escola foi instalada dentro de uma antiga chácara e integrará a rede conveniada da prefeitura, com capacidade para receber até 220 crianças por período. Segundo a prefeitura, o conveniamento começou em agosto do ano passado e o processo de documentação ainda está em curso.
A cerca de um quilômetro de lá, outra creche está pronta, apenas aguardando autorização para começar a funcionar, também em esquema de conveniamento. Segundo o proprietário do imóvel, que preferiu não se identificar, a casa foi completamente reformada e adaptada para funcionar como creche, sob a administração de uma ONG, e está pronta há um ano. São 14 salas de aula, com capacidade para 168 crianças.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, o pedido de conveniamento com a prefeitura foi feito em dezembro do ano passado e ainda está em análise, que verificará se a proposta de atendimento condiz com a demanda da região. Uma vez aprovada, o próximo passo será uma vistoria no imóvel, para checar se as instalações são compatíveis com as atividades das creches.
Devido às reivindicações dos moradores, na última sexta-feira (31) um representante da prefeitura se reuniu com os moradores do Jardim Gaivotas. Segundo o líder comunitário Elito Gonçalves Dias, conhecido como Litão, ficou acertado que um supervisor irá vistoriar os locais para avaliar possíveis adaptações necessárias para a abertura das creches. “Para nós, essas creches são muito importantes. Já esperamos muito tempo e estamos preparados para ir pras ruas caso ela não saia.”
Segundo o estudo “Educação e Desigualdade na Cidade de São Paulo”, lançado no último ano pela organização não governamental Ação Educativa, a taxa de atendimento em creches na idade adequada é consideravelmente menor nas periferias da cidade do que no centro. No Butantã, por exemplo, a taxa de atendimento em creches é de 85% contra 12,3% no Jardim Ângela ou 14,1% em Marsilac, ambos na zona sul.
A ONG estima que uma criança da periferia pode ter até seis vezes mais dificuldade de conseguir uma vaga em creche do que uma criança de regiões mais abastadas da cidade.