greve estudantil

Reitor da USP deixa representantes de alunos fora de reunião sobre eleições diretas

Conselho Universitário decidiu manter escolha indireta. Estudantes ocuparam prédio da administração e hoje realizam assembleias para definir próximos passos

Danilo Verpa/Folhapress

Alunos prometem manter ocupação até que seja alterada a forma de escolha do reitor

São Paulo – Representantes dos alunos no Conselho Universitário (CO) da USP foram impedidos de entrar na sala de reuniões na tarde de ontem (1º), quando o colegiado discutia modelos de eleição para reitor da universidade. O processo foi aberto em julho pelo reitor João Grandino Rodas, que parecia tomado de democracia após uma administração cercada de atos arbitrários. Mas, conforme a RBA antecipara, o ímpeto de abertura havia sido deixado para trás, e caminhava-se para que a universidade mantivesse a escolha do cargo máximo restrita a pequenos grupos.

Ontem, os representantes discentes saíram do CO para avisar aos manifestantes reunidos na porta da reitoria que o Conselho não seria aberto a todos, como cobravam alunos, professores e funcionários. Mas os portões do prédio da reitoria estavam fechados, e eles não puderam sair. Ao voltarem, cinco representantes da graduação, dois da pós e um funcionário se depararam com a sala trancada.

A reitoria confirma que as portas do Conselho permaneceram trancadas até o término da reunião. A alegação é de que o prédio já havia sido invadido e que a ação foi tomada por motivos de segurança. “Nós gostaríamos que o Conselho fosse aberto para garantir com que as questões fossem votadas de maneira transparente”, critica o representante discente da graduação no CO Raul Rosa.

Cerca de 500 manifestantes entraram no prédio e prometem agora permanecer no local até que seja aberto um canal para o diálogo direto sobre as eleições com as categorias uspianas. O ato unificado foi organizado por estudantes, funcionários e professores e contava com a transparência no processo de escolha do reitor, mas, no final, aprovou-se uma proposta de escolha indireta do cargo máximo.

A escolha de uma lista tríplice com nomes a serem encaminhados ao governador atualmente é feita em dois turnos pela Assembleia Universitária, formada pelo Conselho Universitário, Conselhos Centrais, Congregações das Unidades e pelos Conselhos Deliberativos dos Museus e dos Institutos Especializados. A mudança aprovada na reunião de ontem é de que a escolha se dê em um turno, com uma consulta prévia à comunidade, formada 120 mil pessoas. Na prática, a escolha permanece restrita a duas mil pessoas, 1,7% do total.

A decisão desencadeou a ocupação do prédio da reitoria por alunos, funcionários e professores, e a greve geral dos estudantes, deliberada em assembleia.

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Associação de Pós-graduandos (APG) encaminharam um ofício requisitando a abertura da reunião. A proposta foi votada pelo Conselho, mas de maneira controversa. “O Rodas [João Grandino Rodas, reitor da USP] disse que quem era contra a reunião aberta votasse não, e quem fosse a favor, deveria votar sim, mas o CO seria suspenso. Ele manipulou o encaminhamento”, afirma o estudante.

Estudantes, funcionários e professores reivindicam eleições diretas, paritárias e sem composição de lista trípliceAlém de deliberarem greve, os alunos reforçam que o prédio permanecerá ocupado até que sejam discutidas eleições diretas, com paridade entre as categorias – estudantes, funcionários e professores, cada uma com 33,3% dos votos – e sem a composição de lista tríplice. Entre as reivindicações também há a defesa de um plebiscito entre a comunidade universitária para definir o novo modelo de eleição para reitor. Isso descentralizaria a decisão, que atualmente está nas mãos de uma minoria.

Hoje (2), alunos das unidades e dos cursos da USP realizarão novas assembleias para decidir os encaminhamentos da greve em cada instituto. Na quinta-feira os estudantes voltam a se reunir em assembleia geral. Na ocupação foram formadas três comissões: de segurança, de comunicação e de limpeza, para reforçar a permanência pacífica. “Nós não queremos nos perder em questões cosméticas de métodos de movimentos estudantis, em virtude de massificar a nossa reivindicação que é por diretas e pela democracia”, ressalta Rosa.