Proposta de Alckmin

Cursos a distância são promissores, mas têm grande risco de evasão

Especialista confirma tendência da modalidade de ensino, mas alerta que sucesso requer recursos humanos e tecnológicos, além de experiência e disciplina do estudante

Divulgação/UFSCar

Cursos de engenharia, mesmo a distância, devem ter aulas presenciais em laboratórios

São Paulo – A Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) deverá passar a oferecer, a partir do ano que vem, cursos de Engenharia da Computação e de Produção na chamada modalidade semipresencial, com aulas virtuais e presenciais em polos espalhados pelo estado. Apesar das críticas de associações de professores e do movimento estudantil, que defendem investimentos maciços na ampliação de vagas em cursos presenciais nas universidades mantidas pelo estado, há quem enxergue na proposta uma tendência que traz consigo grandes possibilidades de bons resultados.

É o caso do físico José Marques Póvoa, ex-professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde atuou também no desenvolvimento e implementação de cursos a distância, entre eles o de Engenharia Ambiental, o primeiro e até hoje único nesta modalidade. Para ele, a Univesp pode obter êxito com esses dois cursos.”Não dá para ser contra cursos a distância com a tecnologia disponível atualmente. Até porque há muitos alunos em sala de aula com o pensamento a mil quilômetros dali ou mesmo faculdades convencionais onde faltam professores para dar aula”, disse

No entanto, segundo ele, há diversos obstáculos para o êxito dessa modalidade de ensino. Para começar, a educação a distância exige mudanças principalmente na vida do estudante, que deve aprender a organizar seu tempo, seus horários de estudo e sua agenda. “Como oferece a vantagem de não ter horário fixo, leva muito estudante a crer que será mais fácil que o presencial”, disse Povoa, atual diretor acadêmico do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), mantido pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP). Por isso, a permanência depende especialmente da sua disciplina e perseverança para estudar.

Para ele, os mais velhos, a partir dos 40 anos, podem até não ter tanta facilidade com a tecnologia e não estarem familiarizados com as ferramentas de educação a distância. “Mas por outro lado têm experiência de vida e a vontade de estudar. Alguns podem ser vencidos por essa dificuldade. Outros, podem vencer com a sua força de vontade”.

Os mais jovens, egressos do ensino médio, embora tenham nascido num mundo já dominado pela computação podem não ter ainda metodologia para estudar sozinho em casa. “Para eles faz falta a vivência numa universidade, num curso presencial, para acumular conhecimento e disciplina que serão úteis num curso a distância”, disse. “Assim, alunos na faixa de 17 anos teriam esse prejuízo na formação do conhecimento. Por isso não recomendaria o semipresencial para esse público, mas há perdas e ganhos. É melhor fazer este curso do que não fazer nenhum”.

Assim, as chances de permanência nesses cursos, de acordo com Póvoa, dependem de estrutura adequada e recursos humanos. Além de ferramentas pedagógicas para as aulas diárias e laboratórios completos para as atividades presenciais, que devem ser oferecidas semanalmente já a partir do primeiro semestre, são necessários professores tanto para o desenvolvimento das ferramentas didáticas como para a sua aplicação. Além do professor tradicional, estilo lousa e giz, são necessários designers instrucionais, profissionais que planejam, desenvolvem e utilizam métodos, técnicas, atividades, materiais, eventos e produtos educacionais.

“O cursos a distância dependem muito desses facilitadores, e também da perseverança, claro. Tirando isso, um curso a distância não tem muita diferença de um curso presencial”.

O funcionamento do ensino semipresencial depende também do seu credenciamento pelo Ministério da Educação e Secretaria Estadual de Educação. E, pela legislação, o diploma do profissional formado não deve discriminar se ele é formado em curso à distância ou presencial.

Segundo Póvoa, as chances de êxito são maiores no curso de Engenharia da Computação, que tende a atrair alunos que já trabalham na área de informática, muitos dos quais tecnólogos ou técnicos que irão em busca de um diploma de engenheiro. Além disso, os laboratórios usados ‘cabem dentro’ do computador e é mais fácil fazer as atividades em casa ou em outro local – não necessariamente no laboratório do polo.