Alunos, funcionários e professores pedem posse de reitor mais votado na PUC-SP

Após eleição interna, cardeal rompeu tradição e escolheu a última colocada de um lista tríplice, provocando protestos e mobilização

Estudantes empilharam carteiras em repúdio à nomeação de reitora que não foi eleita democraticamente (Foto:Lorraine Baker)

São Paulo – Estudantes, funcionários e professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) estão divulgando pela internet um abaixo-assinado para que seja nomeado o reitor eleito democraticamente. Eles entraram em greve na quarta-feira (14) passada, após o cardeal Dom Odilo Scherer, presidente da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da universidade, ter dado o cargo à professora de Letras Anna Cintra, a menos votada de uma lista de três candidatos. De acordo com os centros acadêmicos da instituição, Anna foi eleita para atender os desejos da Igreja Católica, a quem a fundação pertence. O abaixo-assinado exige que o atual reitor, o professor de Direito Dirceu de Mello, que recebeu o maior número de votos, continue a reger a instituição pelos próximos quatro anos.

O regimento da PUC-SP prevê que o presidente da Fundasp ligada à Arquidiocese, escolha um de três candidatos mais votados por alunos, funcionários e professores. Tradicionalmente, o cardeal escolhe o primeiro colocado. No sistema ponderado de votação, Dirceu obteve a maior média, com 8.382,97. Anna ficou em terceiro, com 6.641,61. Em segundo ficou o professor de Economia Francisco Serralvo, com 6.785,59. Para o movimento estudantil, trata-se de um atentado à tradição democrática da PUC-SP.

“Se Anna assumir, serão quatro anos sem nenhuma legitimidade. Eu pertenço a uma Igreja que lutou pelos presos políticos. Não quero ficar com essa Igreja que desrespeita a comunidade”, disse o professor de Direito Antonio Malheiros, integrante da chapa de Dirceu, em assembleia geral na quarta-feira da semana passada. Antes das eleições, os três candidatos assinaram um compromisso publicamente de que não aceitariam o cargo, caso não fossem eleitos com a maioria dos votos. 

“Solicito à minha colega Anna Cintra que decline o convite do grão-chanceler para ser reitora. Sua rica biografia não deveria ostentar essa mancha”, disse o professor de Ciência e Religião Jorge Claudio Ribeiro, na mesma assembleia. “Mesmo aqueles professores que não votaram no professor Dirceu de Mello, hoje querem que, em nome da democracia, ele assuma”, afirmou o professor de Direito Leonardo Massud, de acordo com a comissão de comunicação do movimento estudantil.

Na terça-feira da semana passada (13), os estudantes ocuparam a reitoria e realizaram uma manifestação na sede da instituição no bairro de Perdizes, na zona Oeste da capital paulista. No dia seguinte, em assembleia geral com representações dos centros acadêmicos, da Associaçao de Professores da PUC-SP e da Associação de Funcionários da PUC-SP, decidiu-se pela greve. Na próxima quarta-feira, às 19h, haverá uma audiência pública com a comunidade acadêmica.

Além do abaixo-assinado, os estudantes criaram um blog colaborativo para acompanhar a greve.

Nota falsa

Na semana passada, uma página do Facebook chamada Democracia na PUC-SP, com cerca de 3 mil seguidores, publicou uma carta falsa de D.Odilo. O texto traz uma assinatura forjada do cardeal e diz: “Deseja-se esclarecer que decisão exibida em 12 de novembro de 2012 e seus artigos se manterá irrevogavelmente, já que não ultrapassou ou contradisse qualquer lei, norma ou estatuto, sendo apenas a vontade justificada dos reais proprietários da instituição, estes descritos na própria nomenclatura da mesma, Pontifícia, e da mantenedora, a Fundação São Paulo”

Em nota, a assessoria de imprensa da da Fundasp afirmou desconhecer a autoria do texto e diz que ele foi falsamente atribuído ao cardeal. “A citada nota sobre a nomeação da nova reitora, Anna Maria Marques Cintra, é uma falsificação lamentável e grosseira do documento autêntico da Fundasp que a formalizou como reitora da instituição. A Fundasp reafirma seu compromisso com a liberdade de expressão, com os princípios éticos e com o cumprimento de seus estatutos e com os da PUC-SP. Além disso, repudia a conclamação feita aos hackers, nas mídias sociais, para invasão do site oficial da universidade”, diz a nota.

No Facebook, a comissão de comunicação declarou desconhecer também a origem do material e afirmou que ele teria sido publicado equivocadamente “Cometemos, sim, um equívoco ao veiculá-lo sem conferir sua procedência”, diz o post do grupo. A comissão retirou do ar as publicações referentes ao documento falso.

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