No Dia das Crianças, mães propõem trocar presente por carinho

Movimento Infância Livre de Consumismo critica publicidade infantil e lembra que felicidade criada por presente é efêmera, ou seja, que o melhor para a criança é a presença dos parentes

Um dia no parque pode ser mais prazeroso à criança que um presente caro (Foto: Renato Araújo. Arquivo Agência Brasil)

São Paulo – O Movimento Infância Livre de Consumismo quer um “outro” Dia das Crianças. Nada de brinquedos caros, celulares de última geração, computadores sofisticados, roupas francesas ou sapatos italianos. Para o coletivo composto por mães, um momento de comunhão com os filhos pode ser a melhor forma de presenteá-los. “O presente do Dia das Crianças não precisa ser um produto comprado numa loja, pode ser um passeio, um evento em família”, diz Ana Cláudia Bessi, a coordenadora do movimento, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

O grupo está realizando uma série de feiras de troca de brinquedos e uma campanha contra a publicidade infantil e o “consumismo precoce que ela provoca”. Uma das sugestões é que mães, pais e filhos se juntem para “reciclar” brinquedos que já não estão sendo usados, e que possam ser encaminhados a instituições de caridade. Outra ideia é a confecção de brinquedos próprios, que se transforma em uma brincadeira que, de quebra, estimula a criatividade e a convivência. “Hoje tem muitas reflexões sobre o que significa o consumo. As crianças se sentem importantes a partir do momento que elas consomem. Elas vão ser que tipos de adultos?”, afirma. 

A indignação com a campanha “Somos Todos Responsáveis”, da Associação Brasileira de Agências de Publicidade, em março deste ano, foi o que motivou a criação do movimento. À época, a associação realizou um debate, e diversos participantes perceberam que o intuito da campanha era responsabilizar exclusivamente mães e pais pelo controle dos filhos à exposição de propagandas abusivas veiculadas pelos meios de comunicação. Eles decidiram por criar o coletivo, que busca conscientizar os país dos problemas da publicidade infantil e também sua regulamentação. 

“Eles têm a intenção de manipular os desejos da criança. De usá-la como ferramenta de venda dentro das famílias, fazer que ela peça exaustivamente aos pais até conseguir  o que ela quer. Eles usam estudos neurológicos para induzir as crianças  para isso. Tem congressos sobre como influenciar as crianças, como transformar as crianças em consumidor, desde o berço. Estamos mostrando pros pais que essas coisas existem”, destaca Bessi, acrescentando que o sentimento de culpa criado pela falta de tempo leva mães e pais a quererem compensar a ausência pela compra de presentes. “A sociedade de consumo nos leva a um ciclo vicioso que  a gente se mata para trabalhar, para consumir, e acabamos não tendo tempo de fazer as coisas realmente importantes na nossa vida. Não nos damos conta disso, por conta dos compromissos financeiros que temos.” 

Ouça a reportagem completa da Rádio Brasil Atual.