Professor: menor salário entre profissionais de nível superior

Valor social da profissão é incontestável, mas desvalorização afugenta jovens da docência

Pesquisadora afirma que os recursos para educação são insuficientes (Foto: Agência Brasil/Marcello Casal)

Formação deficitária, baixos salários, desvalorização profissional e extensas jornadas caracterizam a vida dos professores brasileiros, afirmam especialistas consultados pela Rede Brasil Atual.

No dia dos Professores, Roberto Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE-CUT) alerta que ainda há pouco a comemorar. “Nossa comemoração é a disposição dos docentes brasileiros para lutar por melhorias na educação”, afirma. “Se a luta não fosse incessante, a situação seria muito pior, não tenho dúvidas.”

Para a professora Elba Siqueira de Sá Barretto, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e docente da Faculdade de Educação da USP, os recursos para a educação no Brasil são insuficientes. Elba contesta a ideia de que o problema da educação é a má gestão do dinheiro destinado à área. “Muitas vezes é um discurso falacioso de que a educação tem muitos recursos”, explica.

A pesquisadora acredita que os 4% voltados à educação em geral contemplam muito mal a educação básica. “Sobra muito pouco para investir em educação de qualidade que passa necessariamente pela formação do professor pelas condições de trabalho e salário”, avalia.

Elba aponta que a desvalorização da profissão e a dificuldade de progressão na carreira docente afugentam os jovens. “Os professores no Brasil têm o menor salário entre as profissões de nível superior. E ao longo de toda a carreira docente, o professor acaba recebendo 20% a mais do que recebe o professor no início da carreira”, analisa.

Apesar da constatação da pesquisadora, Leão considera que quem leva a culpa pelas dificuldades da educação brasileira são, injustamente, os professores. “Além da jornada estafante, lecionar em dois ou três lugares, salário baixo, formação difícil, o professor enfrenta a injustiça de ser responsabilizado pelo total abandono da escola pública”, condena. Para ele, o abandono decorre de políticas “absolutamente premeditada” que ocorrem em alguns estados.

Avanços

A real implantação do piso salarial nacional, instituído pelo governo federal, é a grande luta da categoria, argumenta Leão. Para Elba, o piso é um grande avanço, principalmente para a região Nordeste. “Onde há grandes discrepâncias salariais, nas regiões mais pobres, o piso significa uma remuneração mais digna para os professores”, garante.

O problema, de acordo com o presidente da CNTE, é que a maioria das cidades não segue a orientação do Ministério da Educação e continua pagando salários abaixo do piso que hoje é de R$ 1.132,40. “Como estamos numa República Federativa, o MEC não impõe política, induz política, portanto, se os estados não quiserem não farão”, explica.

De acordo com o sindicalista, o piso salarial nacional foi questionado por governos estaduais que têm condições de pagar, como São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

A determinação de como o piso será composto depende agora de decisão do Supremo Tribunal Federal. Há estados que defendem que as gratificações contem para compor o valor do piso, o que segundo Leão, desqualifica e desorganiza qualquer carreira. “É inacreditável compor um salário com base em gratificação”, reclama.

Para a professora, o Brasil precisa de uma política de valorização do professor que dê um salto muito grande para justificar o valor social da docência. “O valor social do professor é muito grande porque os processos de socialização e de formação das novas gerações na sociedade contemporânea são feitos pela educação escolar”.

“O professor tem importância cultural, política e econômica”, destaca Elba, uma das autoras do estudo divulgado este mês pela Unesco “Professores do Brasil: impasses e desafios”.