Impraticável

Economistas ‘divergentes’ concordam: juros do Copom podem matar a economia do Brasil

Vencedor do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz tece duras críticas contra a atual política monetária do Banco Central “independente” e destaca importância dos bancos públicos

Greg Salibian/Fronteiras do Pensamento/Wikimedia cc
Greg Salibian/Fronteiras do Pensamento/Wikimedia cc
"O problema que todo mundo fala aqui no Brasil, já ouvimos várias vezes, é a taxa de juros"

São Paulo – O economista norte-americano Joseph Stiglitz disse nessa segunda-feira (20) que a política de juros do Brasil é contraproducente e equivale a uma sentença de morte à economia brasileira. Aos 80 anos, Stiglitiz já integrou o Conselho de Assessores Econômicos dos Estados Unidos no governo de Bill Clinton entre 1997 e 2000. No ano seguinte, recebeu o prêmio Nobel de Economia em com teorias críticas ao neoliberalismo.

“As ideias econômicas centrais nos últimos 40 anos estão sendo revistas e desacreditadas. A razão é que o crescimento esteve lento na era neoliberal e todos os benefícios gerados foram para as elites econômicas. Há 40 anos de evidências de que o neoliberalismo é segregador de riqueza. O crescimento da desigualdade torna óbvio que é necessário alternativas às políticas monetárias”, afirmou Stiglitz durante seminário no BNDES. “O Brasil tem sobrevivido apesar da sentença de morte, porque o Brasil tem bancos de desenvolvimento que proveram juros baixos”, defendeu o economista.

“Juros altos são contraproducentes, pois podem levar a mais inflação, aumentam o custo da dívida pública e reduzem os recursos do governo para investimentos necessários ao crescimento econômico”, disse o Nobel.

Juros represam investimentos

O economista André Lara Resende abriu o painel sobre a experiência internacional ao destacar que, a crise das economias avançadas em 2008 e, também, o pós-pandemia forçaram a revisão das teorias macroeconômicas. As políticas fiscal e monetária não podem mais ser concebidas como independentes. “Para retirar o país da estagnação, é necessário conceber que o Estado é parte do projeto, não há como suprimir o Estado, não existe capitalismo sem o Estado competente”, defendeu Lara Resende.

Já o professor James Gailbraith, economista de renome internacional, acrescentou que uma política de juros excessivos tende a represar investimentos privados e aumentar o desemprego, o que acaba por desestimular o consumo. “A China converteu a prosperidade do estado socialista em mercado de consumo, mas também, trouxe muitas ideias do Brasil. O Brasil poderia ter avançado mais com juros baixos, investimento alto e tributação mais justa”, esclareceu o professor da Lyndon B. Johnson, da School of Public Affairs.

“O Brasil é um dos lugares mais seguros do mundo para o investimento estar, pois está melhor que muitos países da Europa. Tem uma estrutura financeira sólida, que protegeu bem o país na crise de 2008. Mas a política atual de juros altos precisa ser abandonada, pois é insustentável, principalmente, com a crise climática”, concluiu.

Nada justifica os juros atuais

O seminário ainda contou com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o presidente da FIESP, Josué Gomes da Silva, e o presidente do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), José Pio Borges.

Alckmin defendeu formas de controle da inflação que não passem pelos juros abusivos. “A inflação não é socialmente neutra; ela tira do mais pobre e põe para o mais rico”, ponderou. “Contudo, não há nada que justifique 8% de juro real acima da inflação quando não há demanda explodindo e de outro lado quando o mundo inteiro está praticamente com juro negativo”, completou.

De acordo com o vice-presidente, as soluções para controle econômico com justiça social passam pela reforma tributária e também pela nova âncora fiscal. “Temos inúmeros desafios, entre eles imposto e o custo do dinheiro, os juros altos. Mas o governo Lula está muito empenhado em fazer a reforma tributária. Vai simplificar cinco tributos em um único imposto, o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que vai reduzir o custo Brasil (…) Simplifica tributos e tira a cumulatividade. Vai estimular a exportação e também reduzir o custo Brasil”, disse.

União e reconstrução

Para Ester Dweck, o país está em um momento novo, de reconstrução e união. “O BNDES também é uma das grandes instituições brasileiras sendo reconstruídas. Nunca entendi por que o BNDES não teve uma participação ainda mais relevante durante a crise da pandemia”, declarou. Segundo a ministra, o Banco será um dos grandes motores do desenvolvimento brasileiro.

Fora Roberto Campos

O tema dos juros no Brasil é central para o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista vem criticando duramente a manutenção do patamar elevado. Centrais sindicais, inclusive, preparam manifestações para amanhã (21) pela saída do presidente do BC, Roberto Campos Neto. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) divulgou uma mobilização pela democratização do Conselho de Administração de Recursos Federais (Carf) e do Conselho Monetário Nacional (CMN).

“Menos juros é mais investimento, mais emprego, mais saúde, mais educação. Então, é melhoria na vida dos brasileiros. Participe, pois discutir a economia do nosso país é importantíssimo para a classe trabalhadora. Viva os trabalhadores do nosso país e fora Campos Neto”, defende o presidente da CUT, Sérgio Nobre.

Com informações da Agência BNDES