Armadilha

Caixa encerra consignado do Auxílio Brasil, que foi lançado para uso eleitoreiro de Bolsonaro

Banco público informa que para os contratos já realizados, nada muda. Mas não vai mais operar modalidade de empréstimo que enforca famílias mais pobres

Leonardo Sá/Agência Senado
Leonardo Sá/Agência Senado
Bancos privados continuam operando o consignado do Auxílio Brasil. Governo Lula estabeleceu juros e parcelas menores

São Paulo – A Caixa Econômica Federal anunciou, nesta sexta-feira (24), o fim do empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil. A linha de crédito estava suspensa desde 12 de janeiro para revisão. “A CAIXA informa que os estudos técnicos sobre o Consignado Auxílio foram concluídos e que o banco decidiu retirar o produto de seu portfólio”, diz o banco público, em nota.

O banco esclarece que, para os contratos já realizados, nada muda. O pagamento das prestações continua sendo realizado de forma automática, por meio do desconto no benefício, diretamente pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).

Criando em agosto do ano passado, o empréstimo consignado foi mais uma manobra eleitoreira do governo Bolsonaro. No entanto, os bancos só começaram a liberar os empréstimos em 10 de outubro, oito dias depois do primeiro turno.

Com juros de 4,99% ao mês (79% ao ano), as parcelas eram descontadas diretamente no valor do auxílio. Desse modo, o empréstimo consignado acabou favorecendo principalmente os bancos. E parte das famílias que recebem o auxílio acabou se enrolando em dívidas.

Apesar da saída da Caixa, pelo menos outras 11 instituições financeiras privadas continuam operando o consignado do Auxílio Brasil, que voltou a se chamar Bolsa Família. Dada a baixa capacidade financeira das famílias que estão no programa, grandes bancos como, o Itaú e o Bradesco, nem sequer aderiram a essa modalidade.

Enrolados

A Caixa, no entanto, responde por 80% dos empréstimos contratados a partir do consignado do Auxílio Brasil. O banco público concedeu 99% dos créditos até 1º de novembro, dois dias após o segundo turno, comprovando, assim, o uso eleitoreiro pelo governo anterior.

Com o objetivo de conter o endividamento das famílias mais pobres, o governo Lula estabeleceu novas regras para o consignado. A principal mudança foi a redução do limite de 40% para 5% sobre a fatia do benefício mensal que pode ser descontada para quitar as prestações do empréstimo. Além disso, os juros caíram para 2,5%.

Em entrevista nesta semana ao jornal Valor Econômico, a presidenta da Caixa, Rita Serrano, chamou o consignado do Auxílio Brasil de “excrecência”. Ela destacou que o produto teve “cunho eleitoral”. E afirmou que, mesmo com as novas regras, “a operação não se paga”.

No início do ano, o ministro Wellington Dias (MDS) disse que os beneficiários do Auxílio Brasil que se endividaram com empréstimos consignados serão atendidos no Desenrola. De acordo com a pasta, são cerca de 3,5 milhões de pessoas, que contrataram um total de R$ 9,5 bilhões em empréstimos. O Desenrola vai oferecer condições facilitadas para as pessoas renegociarem suas dívidas e deve alcançar até 100 milhões de brasileiros. Assim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já recebeu a proposta do programa, e deve lançá-lo no mês que vem.