Intencional

Participação da Petrobras nos investimentos do Brasil cai ao menor nível da história

Deyvid Bacelar (FUP-CUT) denuncia que “encolhimento” da Petrobras atende a interesses privados dos acionistas e de importadores de combustíveis, enquanto o consumidor paga mais pelos combustíveis

Geraldo Falcão/Agência Petrobras
Geraldo Falcão/Agência Petrobras
Em 2009, a Petrobras respondia por 11,1% dos investimentos no Brasil

São Paulo – No primeiro trimestre, os investimentos totais da Petrobras somaram R$ 9,2 bilhões. Assim, a participação da estatal na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – índice que mede os investimentos totais no país – ficou em apenas 2,2%, menor nível da série histórica. Nos dois anos anteriores, esse índice ficou em 3,8%. Para efeitos de comparação, em 2009, a Petrobras chegou a responder por 11,1% dos investimentos no Brasil.

Entre janeiro e março, a Petrobras concentrou 78% do total investido – R$ 7,2 bilhões na atividade de exploração e produção (E&P) de petróleo. E investiu apenas 14% – R$ 1,3 bilhão – em refino. O levantamento é da subseção do Dieese na Federação Única dos Petroleiros (FUP), com base em relatórios da própria estatal e dados do IBGE.

Fonte: Subseção Dieese/FUP-CUT

Essa queda brutal é reflexo da atual “política de desinvestimento”, que a companhia adota desde 2016. De lá para cá, os governos do golpista Michel Temer (2016-2018)e do atual presidente, Jair Bolsonaro privatizaram refinarias, além de diversas subsidiárias importantes, como a BR Distribuidora e a Farfen, essa última de fertilizantes.

Como resultado, o país ficou mais vulnerável à importação de combustíveis. E viu os preços dos derivados – como a gasolina, o diesel e o gás de cozinha – explodirem nesse período, em função da política de Preço de Paridade de Importação, que vem sendo adotada desde então.

“Infelizmente faz parte do encolhimento que a Petrobras vem passando, desde o governo Temer. E principalmente agora, no governo Bolsonaro”, afirmou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar ao jornalista Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta sexta-feira (15). Ele destacou que, entre 2009 e 2013, a estatal chegou a investir cerca de US$ 40 bilhões ao ano, contribuindo para a criação de emprego e renda no país. Em 2010, por exemplo, o PIB do Brasil cresceu 7,5%, melhor resultado em 25 anos, puxado em grande medida pelos investimentos públicos, com destaque para a estatal do petróleo.

A quem beneficia o encolhimento da Petrobras?

Para Bacelar, o “encolhimento” da Petrobras faz parte de um “conluio” muito bem montado, que atende a interesses privados. Isso porque a redução dos investimentos ocorre ao mesmo tempo em que a empresa vem registrando lucros recordes.

“No ano passado, foram R$ 106 bi de lucro líquido da Petrobras. E uma distribuição de dividendos da monta de R$ 101 bilhões. Por isso não temos aumento dos investimentos aqui no país”. Nesse sentido, ele afirmou que é necessário que a empresa volte a servir ao povo brasileiro, “e não apenas aos acionistas minoritários, que hoje estão ganhando muito dinheiro“.

Com a redução dos investimentos no refino, a produção de derivados no primeiros trimestre caiu para 1,73 milhão de barris/dia, abaixo do total de 1,85 milhão de barris diários registrados no ano passado. No diesel, , a produção média da Petrobra caiu 726 mil barris/dia de 2021 para 684 mil barris/dia entre janeiro e março.

Por outro lado, subiu de 363 em 2016 para 643 em dezembro do ano passado o total de empresas que atuam no Brasil importando combustíveis do exterior. “Se houvesse a retomada dos investimentos no parque de refino, hoje, além de autossuficientes em petróleo, também seríamos autossuficientes em refino. O que permitiria que precisássemos mais importar diesel, GLP e muito menos gasolina de outros países, principalmente Estados Unidos”, disse Bacelar. Ao contrário, o país corre o risco de sofrer desabastecimento de diesel ao longo do segundo semestre.

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