Caos à vista

Vídeo da FUP: o que pode acontecer se faltar óleo diesel?

Com privatizações e desmonte da Petrobras, risco de desabastecimento de diesel no segundo semestre “é mais do que real”

Divulgação/FUP
Divulgação/FUP
Preço do combustível deve subir ainda mais, impactando também na inflação dos alimentos e demais produtos

São Paulo – A Federação Única dos Petroleiros (FUP) divulgou vídeo nesta terça-feira (5) que alerta a população brasileira para os riscos de desabastecimento: e se faltar óleo diesel no país? Os petroleiros vêm chamando a atenção para a ameaça desde o final de maio. Desde então, a Petrobras e o governo Bolsonaro pouco fizeram a esse respeito. Ao contrário, as políticas de privatização e de desmonte da estatal avançam.

Agora, com o cenário externo adverso, em função da guerra da Ucrânia, o país pode ficar sem parte do diesel importado dos Estados Unidos. Como consequência, o preço dos combustíveis podem subir ainda mais, num cenário de escassez. Os petroleiros preveem filas nos postos e encarecimento dos alimentos, que são transportados principalmente por caminhões.

De acordo com o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, o risco de desabastecimento de diesel no segundo semestre “é mais do que real”. “A gestão da Petrobras confirmou essa possibilidade. Mas infelizmente nada foi feito para inibir ou minimizar esse risco enorme”, criticou. “Uma coisa é certa. Se faltar diesel, os preços irão subir”, acrescentou.

Falta de investimentos

Para Bacelar, a solução para a redução dessa dependência externa passa por investimentos na ampliação do parque de refino. Ele critica o atual governo por não ter concluído as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), e das refinarias Premium I e II, no Ceará e no Maranhão. “Se o governo Bolsonaro tivesse feito todas essas obras que não foram retomadas, nós teríamos hoje não apenas a autossuficiência em exploração e produção de petróleo, mas também no refino. Ou seja, atenderíamos toda a nossa demanda interna.”

No curto prazo, segundo ele, a solução seria a Petrobras voltar a importar diesel, como fazia anteriormente. Nesse sentido, também lamentou a privatização da BR Distribuidora, que seria um instrumento fundamental para garantir a distribuição do diesel no país.

“Daí a importância de a Petrobras ser uma empresa integrada. Tanto é assim, que o ex-presidente Lula tem sinalizado que, a partir de 2023, vai priorizar a retomada da distribuição e comercialização, talvez através de uma criação de uma nova empresa, como era a BR distribuidora“.

Interesses privados

O aumento da dependência externa é resultado das decisões que a Petrobras vem tomando desde 2016, após o golpe do impeachment contra a presidenta Dilma. De lá pra cá, a estatal colocou à venda oitos das 14 refinarias, o que representa 50% do parque de refino do país. Duas delas – a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, e a Refinaria Isaac Sabbá (Reman), já foram entregues à iniciativa privada por preços abaixo do valor de mercado.

Para atrair interessados, a Petrobras reduziu o refino no país, apesar do Brasil ser autossuficiente na produção de petróleo. Desde então, de 20% a 25% do diesel consumido do país passou a ser importado. É nesse contexto que a estatal passa a aplicar o Preço de Paridade Internacional (PPI), para atrair os importadores. E cerca de 80% dessas importações vêm dos Estados Unidos.

No entanto, em função dos embargos à Rússia, os europeus já sofrem com a falta de derivados do petróleo. Assim, os norte-americanos passaram a privilegiar as exportações para a Europa, em detrimento de outros mercados. O coordenador-geral da FUP alertou, ainda, para o risco de interrupção no funcionamento das refinarias dos Estados Unidos que estão localizadas no Golfo do México, por causa da temporada de furacões que atinge a região entre os meses de junho e novembro.