Soberania em risco

Risco de faltar diesel é resultado de fim de investimentos no refino

Sindipetro-SP afirma que, se investimentos no parque de refino tivessem sido mantidos, seria menor a dependência do diesel importado

Agência Petrobras
Agência Petrobras
Refinaria Abreu e Lima começou a operar parcialmente em 2014, porém, sua conclusão foi interrompida em consequência da Lava Jato

São Paulo – A Federação Única dos Petroleiros (FUP) alertou, na semana passada, que o Brasil corre risco de desabastecimento de óleo diesel no início do segundo semestre. Posteriormente, a própria Petrobras admitiu que esse risco é real. De acordo com o diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) João Antônio de Moraes, esse cenário é agravado pela escassez dos derivados de petróleo no mercado internacional. Mas resulta, principalmente, da atual política da Petrobras que privilegia os acionistas privados, colocando a soberania energética do país “em risco permanente”.

“O Brasil optou por exportar o óleo cru e importar o produto acabado. E todos sabem que todas as Nações que fazem isso estão fadadas ao subdesenvolvimento. O Brasil não precisava disso, porque tem um parque de refino importante. E tinha previsão de investimentos importantes, que certamente já poderiam ter resolvido Inclusive essa nossa dependência do diesel”, declarou Moraes a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (31).

Até 2016, a Petrobras previa dobrar a capacidade de produção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Também previa investimentos no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Esses e outros investimentos foram abandonados após o golpe do impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Desde então, os governos Temer e Bolsonaro trataram de garantir os maiores lucros possíveis aos acionistas. A partir daí, a Petrobras passou a aplicar seu “plano de desinvestimento“, com a privatização de refinarias e subsidiária importantes, como a BR Distribuidora. Com o aumento da produção do pré-sal, o Brasil passou a exportar óleo bruto, enquanto depende da importação de derivados.

Raspando o caixa

No ano passado, a Petrobras registrou lucro líquido recorde de R$ 106,7 bilhões. Desse total, a companhia distribuiu R$ 101,4 bilhões aos acionistas, com ínfima previsão de investimentos. Em vez de ampliar o parque de refino no país, a estatal faz justamente o oposto. Também em 2021, o governo Bolsonaro privatizou as refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, e a Refinaria Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas. Na semana passada, a Petrobras anunciou a privatização da refinaria Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor), no Ceará. E todas elas foram vendidas muito abaixo dos valores de mercado.

“É bom lembrar que a refinaria que Bolsonaro entregou para os árabes lá na Baía hoje vende os combustíveis mais caros do Brasil“, criticou Moraes. “Então é importante que o consumidor brasileiro esteja atento e saiba: a solução não é privatizar”.

Preços

A política de Preço de Paridade Internacional (PPI), que fez explodir os preços dos combustíveis no Brasil, também é consequência da retirada da Petrobras do setor de refino. Assim o PPI garante a lucratividade de cerca de 400 empresas importadoras que passaram a atuar no país nos últimos anos. Mas, agora, em função da guerra na Ucrânia, e dos embargos dos Estados Unidos e da União Europeia contra a Rússia, a situação do Brasil ficou ainda mais vulnerável. Isso porque o cerca de 25% do óleo diesel consumido no país é importado. E 80% desse diesel importado vem dos Estados Unidos, que atualmente estão preferindo destinar as suas exportações para a Europa.

No entanto, Moraes destacou que é o governo federal quem nomeia a maioria dos diretores da Petrobras, assim como também escolhe o o presidente da estatal. Portanto, se houvesse coragem e vontade política, o presidente Bolsonaro poderia determinar mudanças nessas políticas.

“Não é verdade que isso não pode mudar”, disse o líder petroleiro. “Agora, é preciso que se diga: é possível mudar enquanto tivermos a Petrobras. Se deixarmos que Bolsonaro, como quer Paulo Guedes, como querem muitos outros, entregar a Petrobras, como estão fazendo com a nossa Eletrobras, o prejuízo será maior e irreversível”.

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