Encenação e covardia

Ao trocar ministro, Bolsonaro tenta ‘lavar as mãos’ sobre preços da Petrobras

Federação dos petroleiros lembram população que não adianta trocar de ministro ou “fingir” que esbraveja pelos preços dos combustíveis, quando cabe somente a Bolsonaro mudar a atual política da estatal

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Demissão de Bento Albuquerque é só mais um "bode expiatório" de Bolsonaro, que não tem coragem de mudar a política de preços da Petrobras

São Paulo – A Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT) reagiu com ceticismo à troca de comando no Ministério das Minas e Energia (MME). O presidente Jair Bolsonaro nomeou nesta quarta-feira (11) o economista Adolfo Sachsida como substituto do almirante Bento Albuquerque. Uma das razões para a mudança teria sido o recente aumento de 8,8% no preço do diesel nas refinarias da Petrobras. Para os petroleiros, no entanto, não adianta mudar o comando do ministério, se cabe somente a Bolsonaro alterar a atual “política perversa” que fez explodir os preços dos combustíveis no Brasil.

De acordo com o coordenador-geral da FUP-CUT, Deyvid Bacelar, Bolsonaro “finge” não ter responsabilidade sobre o aumento dos combustíveis. “Mais uma vez Bolsonaro continua buscando um bode expiatório para uma decisão que cabe somente a ele, que é mudar a perversa política de preços dos combustíveis”.

Em nota, a FUP destaca que a União é a acionista controladora da Petrobras. Nesse sentido, se o presidente quisesse, poderia determinar mudanças na política de Preço de Paridade de Importação (PPI). “O PPI não é lei; é decisão do Executivo”, destacou Bacelar.

A Petrobras passou a aplicar o PPI em outubro de 2016, ainda durante o governo Temer. Assim, a estatal passou a vincular os preços dos combustíveis produzidos no Brasil à variação do petróleo no mercado internacional, acrescidos dos custos de logística para importação que são inexistentes. Como resultado, somente de janeiro de 2019 para cá, a gasolina acumula alta 155,8% nas refinarias. O diesel subiu 165,6%, e o GLP aumentou 119,1%, com o preço médio do botijão de gás de cozinha acima de R$ 120,00.

Esbravejar não adianta

Na última quinta (5), Bolsonaro falou em “estupro” e “absurdo”, após a Petrobras anunciar lucro líquido de R$ 44,5 bilhões somente no primeiro. “Vocês não podem, ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro, da Petrobras, não podem aumentar o preço do diesel”. Mas se tratou apenas de jogo de cena. Cinco dias depois, a estatal anunciava o novo aumento do diesel.

“Se Bolsonaro está tão incomodado, porque ainda não anunciou um subsídio de estabilização usando os dividendos bilionários que o governo ganhou como acionista da Petrobrás no lucro recorde da companhia?”, questionou Bacelar.

A proposta para a criação de um fundo de estabilização já foi aprovada pelo Senado. No entanto, a tramitação do projeto não avança na Câmara dos Deputados, dado o desinteresse do atual governo. Trata-se de uma medida paliativa, que ainda recebeu críticas depois que o Senado retirou um imposto sobre exportação de petróleo bruto que serviria para abastecer o fundo.

Por outro lado, o governo não apresenta qualquer solução para conter, ou ao menos suavizar, a escalada dos preços dos combustíveis. Bolsonaro se limita a trocar o comando da Petrobras e do MME, enquanto o PPI continua funcionando sem grandes mudanças.

Enquanto isso, a escalada dos preços dos combustíveis vai se disseminando por toda a cadeia produtiva. “Em doze meses, a inflação bate 12,13% e o salário mínimo, na gestão Bolsonaro, continua sem aumento real. Já a Inflação, juros e desemprego, todos de dois dígitos, seguem em disparada”, criticou o coordenador-geral da FUP-CUT.

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