empurrando com a barriga

Confusão na Petrobras mostra incapacidade de Bolsonaro para conter preço dos combustíveis

Sistema de preços atual incomoda politicamente o Centrão, de um lado, mas é defendido por uma parte poderosa do mercado

Reprodução/ Youtube
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Bolsonaro queria lavar as mãos e entregar a Petrobras para o Centrão e o mercado

São Paulo – Agora vai? Esta é a pergunta que se impõe após a indicação do ex-secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia José Mauro Coelho, para a presidência da Petrobras. Com ele, Marcio Andrade Weber deverá presidir o Conselho de Administração da estatal. Os nomes foram anunciados na noite de ontem (6).

As escolhas, dessa vez, são por soluções “caseiras”, em vez de se buscar opções “do mercado”: ex-funcionário de carreira da Petrobras e atual conselheiro da empresa, Weber vai assumir a posição que era para ser de Rodolfo Landim. Da mesma forma, Coelho herdará o posto que teria sido de Adriano Pires para substituir o general Joaquim Silva e Luna. Ambos desistiram, depois de muito pressionados, por representarem interesses não condizentes com as posições que ocupariam.

“As indicações de Pires e Landim sinalizavam uma estratégia do governo que deu errado: lavar as mãos e entregar a Petrobras para o Centrão e o mercado. Mas nenhum dos dois passou pelos testes de governança e integridade. Com isso, o Centrão recuou e o mercado, num certo sentido, afinou. E aí buscou-se uma saída caseira que pudesse passar pelos mecanismos de integridade da Petrobrás e da CGU (Controladoria Geral da União)”, diz William Nozaki, diretor-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

O resultado da aparente resolução do imbróglio aponta para duas conclusões, pelo menos no momento. Primeiro, a escolha dos novos indicados, em certo sentido, traduz uma solução que é “mais do mesmo”: o indicado para presidir a Petrobras defende a paridade de preços de importação (PPI), pela qual o reajuste, em dólar, varia de acordo com os preços internacionais. Em agosto do ano passado Coelho declarou em entrevista que “como importador de derivados, eu tenho que praticar um preço que nós chamamos de preços de paridade de importação”.

Bolsonaro ganha tempo

A segunda conclusão é que, com a confusão, Jair Bolsonaro mostra que não sabe como resolver a situação, porque envolve um conflito de interesses entre os dois principais grupos que apoiam seu governo: “essa política de preços incomoda politicamente o Centrão, de um lado, mas é defendida por uma parte importante do mercado, de outro lado. E o governo fica encalacrado no meio do caminho”, diz Nozaki.

Mas, para Bolsonaro, a questão envolve tempo e eleições. “Como ele não tem condição de resolver um problema complexo dessa natureza, quer se livrar da questão o quanto antes. Tentou a estratégia que não deu certo (com Pires e Landim), e o resultado é que se trocou seis por meia dúzia. A política de preços vai continuar dando problema nos próximos meses, mas o governo vaio ganhando tempo”, avalia o diretor do Ineep.

Na prática, no meio do caos que envolveu a companhia, as ações da Petrobras perderam valor de mercado, a inflação de combustíveis continua problemática e sem solução. “E no fim das contas Bolsonaro ganha empurrando o problema com a barriga calendário eleitoral adentro”, acrescenta Nozaki.

O Ministério de Minas e Energia informou ontem (6) que a assembleia-geral da Petrobras está mantida para 13 de abril, quando serão eleitos os presidentes da empresa e do Conselho de Administração. Se tudo ocorrer como previsto, a nova direção assume a partir da reunião do dia 13 e o país vai passar mais um mês tentando entender qual será a nova frequência da política de preços. “O governo vai ganhando tempo e não se tem uma solução definitiva para o aumento dos combustíveis”, continua Nozaki.

FUP: “mais um burocrata”

Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), “Bolsonaro escolheu mais um burocrata e defensor das privatizações para presidir a Petrobras”. No site da entidade, seu coordenador-geral, Deyvid Bacelar, diz ver a indicação de José Mauro Coelho para presidir a estatal “com grande preocupação”. Isso porque ele “parece mais um burocrata, conveniente, cordato e defensor das privatizações e da atual política de preços dos combustíveis”, na opinião do dirigente.

Para Bacelar, o roteiro continua sendo o aumento dos lucros para distribuir aos acionistas e a privatização – defendida enfaticamente pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Mas, para Nozaki, isso não será nada fácil. Se a confusão das últimas semanas pode servir como mais um pretexto do governo e do Centrão para culpar a empresa e defender a venda da empresa, o processo também deixou claro que “eles não conseguem ocupar a Petrobras como gostariam”, diz. “É muito difícil que seja viável (privatizar), do ponto de vista do mercado, num ano eleitoral, ainda mais num período marcado por incertezas no mercado internacional em torno da guerra e do preço do barril do petróleo”, conclui.


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