Outro modelo

Pouco investimento, renda em queda e inflação alta. País tem de rever políticas para crescer

Para o professor Antonio Corrêa de Lacerda, próximo governo terá que rever as políticas macroeconômicas. Projeção para este ano é zero

Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Marcello Casal Jr./Agência Brasil

São Paulo – O resultado do PIB em 2021 não causou surpresa. O presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Corrêa de Lacerda, por exemplo, projetava 4,5%. Portanto, 0,1 ponto abaixo do resultado divulgado pelo IBGE. Além de a economia brasileira se encontrar abaixo do nível do início 2014, o baixo volume de investimento, aliado a problemas como inflação e juros, não permite pensar em recuperação do país. “O novo governo terá que repensar esse mix de políticas macroeconômicas”, afirma Lacerda. E para 2022, a expectativa é de crescimento do PIB é zero, diz o também professor do Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP.

Desse modo, o cenário inibe investimentos, observa Lacerda. “O investimento é movido pela expectativa futura. E, de fato, o cenário é muito adverso. São 29 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, capacidade de compra em queda, taxa de juros muito alta. Fatores que jogam contra o crescimento econômico.”

Um contraponto importante, ressalta, seriam os investimentos públicos. “Mas não é o que ocorre no Brasil, principalmente depois da Emenda (Constitucional) 95”, lembra Lacerda, citando o chamado teto de gastos. Depois da EC 95, aponta, a participação do investimento público na economia caiu pela metade em relação aos quatro anos anteriores (2013-2016). “O teto é um limitador importante.”

Modelo que não deu certo

Isso acontece, segundo o presidente do Cofecon, porque se insiste “em um modelo que não deu certo”. Reformas e certa estabilidade econômica, dizia o governo, trariam os investimentos privados de volta, o que não aconteceu. Além disso, defende, é preciso voltar em políticas direcionadas à atividade industrial. “Não se conhece país que tenha se desenvolvido sem indústria. E é o setor que gera maior valor agregado.” Lacerda fala em “reinserir o país nas novas tecnologias”. Segundo ele, é ilusão achar que o agronegócio, sozinho, irá resolver o problema.

Pelas projeções da economia, a inflação crescerá em torno de 6% neste ano. Menos do que em 2021, mas ao mesmo tempo uma alta sobre um IPCA que ficou próximo dos 11%. E será preciso considerar, ainda, possíveis efeitos do conflito entre Rússia e Ucrânia. Sem contar, diz Lacerda, que a inflação é maior para a população de menor renda, “porque pega combustíveis, energia, alimentos”.