À véspera do aumento

Em vez de corrida aos postos, petroleiro defende ‘corrida para tirar Bolsonaro’

“O povo está sofrendo por opções de políticas econômicas equivocadas”, contesta diretor do Sindipetro-SP. Com dolarização do petróleo, gasolina e óleo diesel subiram perto de 160% ante 30% da inflação nos últimos seis anos

Agência Brasil/Reprodução
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"Estamos empenhados na construção desses comitês e na mobilização da população brasileira. São as únicas saídas para de fato encostar Bolsonaro e Paulo Guedes na parede", defende petroleiro

São Paulo – A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e os sindicatos da categoria estão alinhados com a CUT para a formação de comitês de reconstrução da democracia brasileira em todas as regiões do país. De acordo com o diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do estado de São Paulo (Sindipetro-SP) João Antônio de Moraes, as entidades estão preparando mobilizações para canalizar a revolta da população diante de mais um aumento nos preços dos combustíveis, que ontem (10) provocou corrida aos postos.

A partir desta sexta-feira (11), o preço médio de venda do litro da gasolina nas refinarias passará de R$ 3,25 para R$ 3,86, alta de 18,8%. O do diesel irá de R$ 3,61 para R$ 4,51, reajuste de 24,9%. O gás de cozinha (GLP) foi reajustado às distribuidoras em 16,1%, de R$ 3,86 para R$ 4,48 por quilo. Um “mega-aumento”, que fez disparar a expectativa de inflação para 2022. E que compromete ainda mais o orçamento do brasileiro. As mobilizações foram confirmadas por Moraes em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual. Ao comentar sobre a notícia da “corrida aos postos de gasolina”, às vésperas do aumento nesta sexta, o petroleiro destacou que “na verdade os brasileiros precisam correr para as ruas para botar esse governo para correr, tirar ele de lá”. 

Coordenador da Plataforma Operária e Camponesa de Água e Energia e ex-coordenador geral da FUP, ele destaca que “o povo está sofrendo por opções de políticas econômicas equivocadas de seguidos governos que não têm compromisso com a nossa gente. Não é verdade que o gás de cozinha tem que custar o que está custando, é mentira. Só está custando isso para colocar R$ 100 milhões de dividendos no bolsa de meia dúzia, quando 200 milhões de pessoas passam necessidades”, contestou. 

Fim da PPI

Moraes faz referência à Política de Preço de Paridade de Importação (PPI) adotada desde o governo de Michel Temer (MDB), em 2016, após o golpe contra Dilma Rousseff (PT). E seguida também pelo governo Bolsonaro. Essa política repassa quase integralmente para o mercado interno as variações do preço internacional do petróleo. De acordo com o diretor do Sindipetro, sem a PPI, o Brasil teria condições de administrar os preços dos combustíveis, com a Petrobras, e sem repassar ao consumidor, como fez nos anos 1970, observa ele, com o “choque do petróleo”. 

Para isso, o dirigente cobrou o fim da atual política de preços, atrelada ao dólar. Assim como alertou para o desmonte da estatal, que vem sendo fatiada de Temer a Bolsonaro. Segundo ele, o País “abriu mão de sua soberania para facilitar a vida dos especuladores”, como chama os acionistas da Petrobras, que deverão receber mais de R$ 100 bilhões em lucros e dividendos relativos a 2021.

Em paralelo, a subseção do Dieese na FUP calcula que, de outubro de 2016 a março de 2022, a inflação geral do Brasil esteve em torno de 30%. Enquanto que a gasolina e o óleo diesel subiram perto de 160%. Já o gás de cozinha registrou alta ainda maior, de 350% nos últimos seis anos. O que está diretamente relacionado à PPI. 

Mobilização nas ruas

“Temos feito campanhas grandes de venda de gás de cozinha a preços mais acessíveis para a população e até da gasolina. Geralmente a alta desse derivado afetava mais a população de renda mais alta. Mas hoje ela atinge uma população já muito sacrificada, que são os trabalhadores de aplicativo. Uma gente que se sacrifica muito nas ruas para entregar a comida de outras pessoas mas que, no final do dia, não tem a comida para levar para casa. Estamos fazendo esse trabalho para mostrar que é possível uma política diferente. E a saída é essa mesmo, pelas ruas”, ressalta Moraes. 

“Nos próximos dias e meses estamos empenhados na construção desses comitês e na mobilização da população brasileira. São as únicas saídas para de fato encostar Bolsonaro e Paulo Guedes na parede e obrigar eles a mudarem. Porque não temos dúvida de que, por opção, eles não farão. Eles têm muito mais compromisso com os especuladores e outras nações. O Brasil reduz a produção de refinarias nacionais para comprar combustível dos Estados Unidos. Estamos desempregado o nosso povo, paralisando refinarias”, adverte o diretor do Sindipetro. 

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima