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Mercado já aceita Lula: ‘As pessoas no exterior não gostam de Bolsonaro’

São cada vez mais frequentes os sinais de que, para setores representativos de grandes investidores, a possível eleição de Lula não é um bicho de sete cabeças

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
“Lula é o favorito. Ele praticamente já ganhou”, disse investidor Luis Stuhlberger esta semana

São Paulo – Novos sinais emitidos pelo mercado financeiro mostram que a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está deixando de ser um “bicho de sete cabeças”. Na terça-feira (1º), em concorrido evento online do banco suíço de investimento Credit Suisse, dois dos mais prestigiados gestores de fundos de hedge do Brasil deram indicações irrefutáveis nesse sentido. “Lula é o favorito. Ele praticamente já ganhou”, disse Luis Stuhlberger, CEO e diretor de investimentos da Verde Asset Management AS, por exemplo. “Não acho que veremos um Lula vingativo ou um Lula líder sindical prevalecer”, acrescentou.

Matéria da Bloomberg lembra que, em 2018, os investidores festejaram que, por ser de esquerda, o ex-presidente foi impedido de concorrer, ainda que em razão dos processos fraudulentos da Lava Jato. Porém, no atual cenário, o mercado está “desiludido” com Jair Bolsonaro. Não só porque seu governo não promoveu as “reformas” defendidas pelos liberais, como porque “manchou a reputação do Brasil no exterior com posições controversas sobre tudo, desde questões climáticas até vacinas”, aponta a matéria.

Os investidores presentes ao evento do Credit Suisse na terça consideram “muito preocupante” os índices da economia do país, que, junto ao impacto da pandemia de covid-19, volta à recessão e está com inflação acima de 10%. As declarações, mais que conformistas, foram realistas sobre a possível eleição do petista.

“Chance de o Brasil melhorar”

“Não atire no mensageiro: pessoas no exterior gostam de Lula e não gostam de Bolsonaro. É um fato”, afirmou Rogério Xavier, da gestora de fundos de hedge SPX Capital, no mesmo evento. “Investidores estrangeiros veem uma chance de o Brasil melhorar com Lula.”

A abordagem de Xavier foi respaldada por números de fluxo de mercado. As ações registraram uma entrada de R$ 32,5 bilhões (ou US$ 6,2 bilhões) vindos de não residentes em janeiro. É o segundo maior valor mensal pelo menos desde 2008, informa a Bloomberg.

Já o Financial Times, templo midiático do mercado, publicou longa matéria no domingo, com abordagem mais distante e cética. Intitulado “Lula deixa pistas sobre planos para a economia do Brasil se reeleito”, o texto da publicação britânica questiona: “Para a influente classe empresarial do país, a questão é qual Lula assumirá se for reeleito. Será o pragmático que abraçou amplamente a ortodoxia econômica quando assumiu o cargo em 2003, enquanto aliviava a pobreza com esquemas de bem-estar? Ou o líder de segundo mandato que inaugurou uma era de intervenção e gastos estatais expandidos em resposta à crise financeira global?”

A própria reportagem responde, na voz de um banqueiro de investimentos não identificado: “A esperança é que Lula seja fiscalmente responsável”. O FT manifesta preocupação com a possível política revisionista de um eventual futuro governo Lula. O jornal chama de “perturbadoras” as ideias do PT contra privatizações e possível reavaliação da ainda não efetivada privatização da Eletrobras.

Bola de cristal de Mailson

Apesar do ceticismo, o FT termina dizendo que alguns “observadores” acreditam que Lula adotará “posições moderadas, principalmente devido à realidade de construir coalizões” na campanha. O jornal diz que tal expectativa foi alimentada em recente entrevista de Lula (à mídia alternativa, dia 19) em que o ex-presidente manifestou grande simpatia pela ideia de ter Geraldo Alckmin como vice.

“O mercado hoje tem mais esperança de que Lula possa ser um bom presidente para a economia, mais responsável e capaz de implementar uma boa agenda, do que Bolsonaro”, disse o banqueiro de investimentos.

Outro veículo longe de se alinhar ao campo progressista, a revista Veja já havia citado a entrevista de Lula aos veículos independentes no próprio 19 de janeiro. Segundo a matéria, a coletiva “veio no tom moderado que os investidores esperavam e alavancou a bolsa de valores em um dia de estresse nos mercados americanos”. A publicação da Abril acrescenta que Alckmin como seu vice e uma aliança com a centro-direita “soou como música para a Faria Lima’.

As especulações em torno e de uma possível vitória de Lula vêm desde o ano passado. Em entrevista a O Estado de S. Paulo, o ministro da Fazenda de José Sarney Maílson da Nóbrega já previa: “Eu não tenho bola de cristal, mas aposto que o mercado vai preferir Lula a Bolsonaro se houver só essas duas opções”.

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