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Economistas defendem ‘frentes de expansão’ para tirar país da crise

No Pauta Brasil desta semana, na TVT, Ricardo Bielschowsky (UFRJ) e Guilherme Mello (USP) detalharam proposta de novo modelo para sanar a crise econômica do Brasil

Tânia Rêgo/Agência Brasil
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Melhora nos serviços públicos aumentaria a capacidade de consumo das famílias

São Paulo – O período de sete anos para cá vem sendo marcado por retração ou crescimento ínfimo da economia brasileira. Após o golpe que destituiu Dilma Rousseff do poder em 2016, as apostas dos governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro só pioraram o quadro. Precarização dos direitos trabalhistas e redução dos investimentos públicos produziram resultados negativos crescentes. Em vez de bem estar social, o desemprego bateu recorde no ano passado, reduzindo a capacidade de consumo das famílias. Para a retomada do crescimento, os economistas Ricardo Bielschowsky (UFRJ) e Guilherme Mello (USP), defendem um novo modelo de atividade econômica.

São, basicamente, quatro “frentes de expansão” que compõem esse modelo. E serviriam de “motor” para reativar o consumo e a produção fazendo girar a roda da economia brasileira. Os pesquisadores deram detalhes dessa proposta no Pauta Brasil desta semana, programa transmitido pela TVT, em parceria com a Fundação Perseu Abramo.

A primeira frente é a expansão do mercado consumidor interno, através da valorização dos salários e de programas de redistribuição de renda. Soma-se a isso o aumento dos investimentos em áreas sociais. Com saúde e educação públicas de qualidade, por exemplo, as famílias poderiam destinar mais recursos para a compra de bens e serviços.

Já a retomada dos investimentos públicos em infraestrutura serviria, principalmente, para melhorar as condições de transporte, telecomunicações e energia. Além disso, também é outra fonte importante na retomada do emprego. Por sua vez, a última frente está relacionada a exploração de recursos naturais: agricultura, pecuária e extração mineral. É um setor que depende da coordenação estatal para ampliar ganhos e, ao mesmo tempo, zelar pela sustentabilidade.

Reativação

“Essa frentes de expansão foram ativadas ou potenciadas nos governos Lula e Dilma, por diferentes programas e políticas”, afirma Bielschowsky. “Mas foram desativadas por Temer e Bolsonaro”, criticou. No entanto, estariam “latentes”, prontas para serem reativadas. “Em benefício do emprego, da inclusão social, do progresso técnico e da sustentabilidade ambiental”.

Para Mello, desde 2016, com o golpe do impeachment contra Dilma, a economia brasileira abandonou o estilo “desenvolvimentista”. Contra a participação do Estado, a opção adotada representou um resgate do “modelo neoliberal” da década de 1990. Ainda mais “radicalizado”, no entanto. “Não só radicalizado, como ainda mais descolado do cenário Internacional. Naquela época, tinha uma onda neoliberal mundo à fora. E no Brasil em particular. Mas agora, não”.

Atualização

Para os economistas, os investimentos em sustentabilidade podem inaugurar um novo ciclo de crescimento de longo prazo. Uma das inspirações pacote trilionário lançado pelo governo Biden, nos Estados Unidos, para estimular o desenvolvimento de fontes de energia limpa. Bielschowsky chegou a falar, até mesmo, numa espécie de “keynesianismo ambiental”.

Dessa maneira, “não é por acaso”, que a questão ambiental passou a ser central nos últimos anos, disse Mello. “Mas exatamente devido aos impactos do aquecimento global e das mudanças climáticas”. Além disso, ele destacou o potencial de geração de emprego e avanço tecnológico que essa área provoca.

Participação

Combinada às “frentes de expansão”, Mello disse que é preciso estabelecer quais são as “missões” sociais e ambientais mais importantes para o país. Para tanto, ele disse que é fundamental o diálogo com as populações nos territórios. Não é mais possível, como em outros tempos, elaborar um plano de desenvolvimento “de cima para baixo”.

Esse debate com as comunidades também serviria, assim, para angariar apoio a esse projeto de desenvolvimento. “É um dos temas fundamentais de qualquer estratégia, qualquer estilo de desenvolvimento. Esse projeto precisa de sustentação social e política, para se manter ao longo do tempo”.

Nesse sentido, trata-se, segundo ele, de elencar uma série de missões que vão “coordenar as ações dos setores público e privado, da sociedade e diferentes níveis federativos para produzir a transformação na estrutura produtiva na estrutura social. Com sustentabilidade ambiental, que é o que todos nós desejamos.”

Assista ao debate na íntegra


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