POLÍTICA DO ATRASO

Economia não voltará a crescer sob projeto neoliberal de Bolsonaro e Guedes, afirmam economistas

Levantamento aponta que país só recuperará níveis econômicos pré-pandêmicos em no mínimo dois anos

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
O buraco provocado por Paulo Guedes e Jair Bolsonaro na economia do Brasil será difícil de ser recuperado, na leitura da economista Lígia Toneto, do Coletivo Desajuste

São Paulo – A economia do Brasil não voltará a crescer, nem poderá recuperar as perdas dos últimos anos por conta do atual programa neoliberal promovido por Jair Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes. Na avaliação de economistas, o projeto de país comandado pelos dois tem aprofundado a desigualdade social e aumentado a pobreza, além de piorar os mais diversos índices do setor.

A diretora-adjunta do Dieese, Patrícia Pelatieri, lembra que os níveis da economia do Brasil pré-pandemia já eram insuficientes, com uma elevada taxa de desemprego e renda depreciada. “Foram escolhas de políticas econômicas feitas desde o golpe de 2016, que só tem aprofundado a desigualdade e piorado a pobreza. O Brasil está menor do que era em 2014. Temos 19 milhões de pessoas passando fome e outras 100 milhões com insegurança alimentar”, alertou ela, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

Pesquisa realizada pela consultoria de dados Kantar, divulgada na última sexta-feira (7), apontou que o Brasil deve levar dois anos ou mais para retomar a economia aos níveis pré-pandêmicos. Patrícia acrescenta que outros países enfrentaram a pandemia por meio da promoção de políticas sociais. Segundo ela, apesar do auxílio-emergencial criado pelo Congresso Nacional, outras decisões têm influenciado negativamente na economia e piorado a qualidade de vida dos brasileiros.

“A inflação atual não acontece por destino, ela é fruto de escolhas políticas que estão sendo feitas. Ela tem ligação com o preço dos alimentos, a escolha de acabar com os estoques reguladores, a prioridade ao plantio de comoditties, além da política da Petrobras que impacta o preço dos combustíveis. É obrigação do Estado atuar como um agente anticíclico, pois tem a capacidade de minimizar e reverter esse tipo de crise. Há várias políticas que podem ser adotadas, como a transferência de renda. A queda do PIB em 2020 só foi de 4,5% por que houve o auxílio emergencial mais robusto”, afirmou a especialista do Dieese.

Novo caminho para 2023

Na leitura da economista Lígia Toneto, do Coletivo Desajuste, ainda neste ano, a expectativa é de pouco espaço para o crescimento econômico. Ela explica que o Brasil deve fechar 2022 com uma inflação de mais de 10%. “Isso faz com que a gente acaba o ano com indicadores terríveis referentes à miséria, ao aumento da pobreza e com retorno da fome”, alertou, em sua coluna no Seu Jornal, da TVT.

Outro problema que Lígia chama a atenção é o salário mínimo, que não tem reposição acima da inflação desde o fim da política de valorização.

“O presidente Bolsonaro vetou o projeto de lei que tinha sido aprovado, no final de 2021, de reescalonar, negociar e estender o prazo das micro e pequenas empresas pagarem as dívidas que contraíram nesse período de dura crise da pandemia. Elas são as maiores geradoras de empregos no país, então o presidente já sinaliza, nas primeiras semanas do ano, que não pretende aumentar o salário do trabalhador, nem melhorar a situação das empresas, mostrando que a expectativa de 2022 não será muito melhor que os dois últimos anos”, criticou a economista.

Patrícia Pelatieri afirma que o caminho só mudará a partir de uma nova visão para a economia do Brasil, dando fim ao projeto neoliberal de Bolsonaro. “O ano de 2022 será decisivo para determinar qual Brasil teremos num futuro próximo. Se vamos continuar nesse caminho de destruição ambiental, redução dos direitos e empobrecimento da população, ou vamos encontrar o rumo do desenvolvimento, com proteção ambiental e dignidade humana”, finalizou.