Efeitos nefastos

Lava Jato tem responsabilidade na crise brasileira, pontua economista

Para além das finalidades políticas, cada vez mais evidentes com as possíveis candidaturas de Moro e Dallagnol, economista expõe o processo de punição de pessoas jurídicas na operação, o que penalizou a economia, quebrou empresas e gerou desempregou

Petrobras/Reprodução
Petrobras/Reprodução
"A quebra dessas cadeias produtivas pela Lava Jato deixa em evidência claramente um projeto de destruição de país", destaca Uallace Moreira sobre o "legado" da operação

São Paulo –  A crise que se arrasta na economia brasileira desde 2015 deriva em boa parte da condução da operação Lava Jato, como destaca o professor da faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Uallace Moreira. Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, o economista aponta que a forma “moralista e partidária com que foram conduzidas as investigações” provocou “esse impacto econômico e essa crise que se agravou muito com as políticas implementadas por Michel Temer e pelo que estamos vivendo agora, o desastre desse governo Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes”. 

A discussão sobre as consequências econômicas da Lava Jato voltou à tona por conta da notícia das possíveis candidaturas do ex-juiz Sergio Moro e do ex-procurador e ex-coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol. Ex-ministro de Jair Bolsonaro, Moro vai se filiar ao Podemos, para uma possível candidatura à Presidência da República, enquanto Dallagnol almejaria uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ontem, em nota, a Associação Juízes para a Democracia (AJD) reiterou que a ida dos lavajatistas às urnas confirma “a existência de manipulação política” na operação. O que, além de ter atacado o sistema democrático, também trouxe graves consequências econômicas ao país.

Perdas bilionárias

Uallace Moreira ressalta que ao privilegiar a punição de pessoas jurídicas, e não físicas, a Lava Jato penalizou a economia do país. Levantamento do site Poder 360, que analisa o desempenho de 12 empresas envolvidas na operação desde 2014, mostra que elas deixaram de faturar R$ 563 bilhões e perderam 206.606 postos de trabalho, até maio deste ano. Entre as companhias, estão a Petrobras, a Odebrecht, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez. Com queda no faturamento, o estudo também evidencia que houve uma perda de arrecadação por parte do Estado de R$ 41,3 bilhões de impostos. 

Apenas as construtoras brasileiras encolheram, em quatro anos, quase 90%. O faturamento saiu de R$ 105 bilhões, em 2013, para R$ 11,8 bilhões. No caso da Odebrecht, quase 94% do quadro de funcionários foi cortado em seis anos. A construtora, que tinha 126 mil trabalhadores em 2013, chegou a 2020 com 7,5 mil. “Um impacto brutal”, conforme descreve o economista.

Outro estudo, do Dieese, usou a matriz em insumo e produto com os valores de 2014 a 2017, e revela que a Lava Jato custou cerca de 4,4 milhões de empregos, com um impacto de 3,6% sobre o PIB do Brasil. “Isso fez com que o país deixasse de arrecadar R$ 47,4 bilhões de impostos e R$ 20,3 bilhões em contribuições sobre a folha. Além de ter reduzido a massa salarial do país em R$ 85,8 bilhões”, descreve o levantamento.

Lava Jato serviu a um projeto de destruição

Toda essa redução significou também a quebra das cadeias produtivas. A avaliação é que o combate à corrupção não poderia ter se dado da forma como foi feito pela Lava Jato. Moreira compara a atuação da operação com outros países, como a Coreia do Sul, que condenou por corrupção neste ano o herdeiro e principal dirigente da Samsung, Lee Jae-yong, e não a companhia que, embora privada, serve a um projeto de desenvolvimento nacional. 

Da forma como foi feita, a Lava Jato, destaca ele, apenas “deixou evidente um projeto de destruição do país”. “(Na Coreia) Foi diferente a forma como se tratou a corrupção e os interesses nacionais. Ele não vai deixar de pagar as multas por consequência das suas atitudes ilícitas. Mas você não pode, a partir disso, comprometer o desenvolvimento e os interesses nacionais. A corrupção deve ser combatida, mas de forma estratégica”, aponta.

“Os mecanismos de combate e punição devem ser aprimorados, mas sem o punitivismo e o lawfare, sem o interesse de quebrar cadeias produtivas e pessoas jurídicas. Porque nós estamos pagando um preço muito caro pela quebra de cadeias produtivas nacionais, empresas que tinham capacidade de internacionalização e geração de empregos. A crise está aí para a gente ver o impacto que isso teve na vida da sociedade, lamenta o economista.

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção