Unha e carne

Desigualdade, fome e precarização: ‘É impossível separar Guedes e Bolsonaro’, diz economista

Surgimento de novos bilionários durante pandemia, enquanto a fome se agrava no país, é retrato das políticas neoliberais dos últimos anos

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Enquanto Bolsonaro nada faz para combater à pandemia, Guedes condena a maioria da população à fome e à miséria

São Paulo – Para a economista Camila de Caso, não há contradição entre o avanço da fome no Brasil e o surgimento de novos bilionários no país durante a pandemia. As reformas neoliberais empreendidas nos últimos anos serviram para aumentar a vulnerabilidade dos trabalhadores, tornando-os mais suscetíveis a aceitarem qualquer oportunidade de emprego, em nome da sobrevivência, e ampliando assim as desigualdades. Ela diz que, enquanto Bolsonaro comanda uma política genocida no combate à pandemia, o ministro Paulo Guedes condena os sobreviventes à miséria, com um auxílio emergencial que não supre nem de longe as necessidades básicas das famílias.

“Eles têm que ser responsabilizados pelo que estão fazendo. É impossível – como a mídia tradicional tenta fazer – separar o Bolsonaro do Paulo Guedes. É um conjunto. Inclusive somente governos muito autoritários conseguem colocar uma política econômica tão neoliberal”, afirmou a economista, em entrevista ao Revista Brasil TVT deste domingo (12).

De acordo com a Camila, mestranda em Economia pela Unicamp e assessora econômica da bancada do Psol na Câmara dos Deputados, uma das saídas apontadas é a proposta de reforma tributária solidária, apresentada ainda em 2019 pelos partidos de oposição. Seu intuito é aumentar a tributação sobre as faixas mais altas de renda e patrimônio, aliviando a cobrança de impostos sobre o consumo, que penaliza a população mais pobre.

Auxílio é a saída

A economista destacou que a recessão econômica só não foi maior, no ano passado, em função do auxílio emergencial de R$ 600. Foi esse mecanismo de transferência de renda que garantiu, por meio do consumo, algum fôlego para o funcionamento da economia. No entanto, com a primeira redução do valor do auxílio, sua suspensão e retorno com valor ainda menor em 2021, as perspectivas econômicas voltaram a se deteriorar.

Camila classifica como “absurdos” os novos valores pagos pelo auxílio emergencial. Ainda mais diante da inflação dos alimentos, que ficou em mais de 20% nos últimos doze meses na maioria das capitais, segundo dados do Dieese.

Pessoas que vivem sozinhas terão direito a quatro parcelas mensais de R$ 150. Para as famílias, esse valor sobe para R$ 250. Mulheres chefes de família poderão sacar R$ 375. “É impossível que uma família consiga viver com esse valor. No Distrito Federal, por exemplo, o gás de cozinha está R$ 105. Como é que pode um o auxílio de R$ 150 ou R$ 250?”, criticou a economista.

“Passando a boiada” na economia

Camila denuncia, ainda, que além de não dar respostas para os desafios impostos pela pandemia, o governo Bolsonaro vem “passando a boiada” também na economia, destruído políticas públicas importantes. Ela cita o caso da suspensão dos recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Sob a alegação de que as escolas estão fechadas, o governo federal cortou recursos que servem para estimular a produção de alimentos realizada por pequenos produtores da agricultura familiar.

Solidariedade

Diante da falta de ação mais contundente no combate à fome, Camila destacou iniciativas solidárias que envolvem movimentos sociais e sindicais. É o caso, por exemplo, do projeto Cozinhas Solidárias, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). A primeira foi inaugurada no mês passado, no bairro da Brasilândia, Zona Norte de São Paulo (SP). Até o final deste mês, serão mais 16 cozinhas comunitárias em 10 estados brasileiros.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira