Fome

Auxílio emergencial não banca nem metade da cesta básica, que subiu mais de 20% em um ano

Economista explica que queda no preço dos alimentos na último mês – depois de forte alta anual – vem do empobrecimento da população e da suspensão no auxílio emergencial

Giorgia Prates/BDF
Giorgia Prates/BDF
"Fome dos brasileiros vai ajudar a baixar a inflação, o que é um cenário extremamente perverso", afirma economista

São Paulo – Levantamento do Dieese divulgado nesta quinta-feira (8) aponta que custo médio da cesta básica caiu em 12 capitais brasileiras, entre fevereiro e março. Outras cinco capitais, no entanto, ainda registraram aumento. Além disso, nos últimos 12 meses, a inflação da cesta de alimentos teve aumento superior a 20% na maioria das capitais. A principal explicação para a recente redução, contudo, é a queda na renda das famílias. Sobretudo, diante da suspensão do auxílio emergencial, que voltou a ser pago apenas em abril, com valores ainda menores.

De acordo com a economista Patrícia Costa, supervisora de pesquisas do Dieese, a queda nos preços dos alimentos, que deveria ser comemorada, na verdade traz um alerta preocupante.

“Nesse momento a população está muito empobrecida, sem renda para comer. Então começa a haver redução da demanda. Essa redução acaba impactando no nível de preços”, afirmou a economista, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (9).

Patrícia explica que do lado da oferta não houve alteração expressiva. O agronegócio continua exportando grande parte da produção, o que pressiona o preço para cima. Outros produtos, como o feijão, passaram a ser importados, o que também contribui para a alta dos preços, em função da desvalorização do real.

Contudo, justamente por conta dessa longa trajetória de elevação, associada à queda da renda da população, os preços dos alimentos chegaram a um limite. “Houve redução nos preço do arroz e do óleo de soja, por exemplo. Esses produtos atingiram um patamar de preços muito elevado. E agora ficam inviáveis para o consumo, uma vez que uma parte grande da população não tem dinheiro”, destacou.

Auxílio emergencial

A economista do Dieese destacou que as parcelas auxílio emergencial de R$ 600 pagas no ano passado foram fundamentais para a manutenção da renda das famílias. No entanto, os novos valores definidos para 2021, que variam de R$ 150 a R$ 375, são insuficientes para bancar os gastos mínimos com a alimentação. Em São Paulo, por exemplo, o valor da cesta básica ficou em em R$ 626,00 em março, apesar da variação negativa de -2,1%. Portanto, o valor médio do auxílio – R$ 250 – não alcança nem a metade da cesta.

“Qualquer auxílio que não alcance pelo menos os R$ 600 do ano passado se torna inviável”, frisou a economista. “Porque no ano passado não havia essa inflação de alimentos. Agora a gente tem aumento de 20% nos produtos da cesta básica, em quase todas as capitais. Em vez do valor do auxílio aumentar, diminuiu”, criticou.

Patrícia destacou, ainda, a orientação neoliberal da equipe econômica do governo Bolsonaro, que defende menor intervenção do Estado na economia. Em função disso, não houve qualquer tentativa de conter a escalada dos preços dos alimentos nos últimos 12 meses. “Nesse momento a fome dos brasileiros vai ajudar a baixar a inflação. O que é um cenário extremamente perverso”, lamentou.

Assista a entrevista

Redação: Tiago Pereira