Desmonte

Greve dos petroleiros: venda de refinarias deve elevar ainda mais preços dos combustíveis

Desmonte do parque de refino da Petrobras afeta a soberania energética nacional, de acordo com petroleiros em greve, há mais de 10 dias

Juarez Cavalcanti/Agência Petrobras
Juarez Cavalcanti/Agência Petrobras
Além da Rlam, Petrobras pretende se desfazer de outras sete do total de 13 refinarias

São Paulo – Os preços da gasolina nas refinarias acumulam alta de 54,3% desde 1º de janeiro. No mesmo período, o diesel subiu 41,5%. A brusca oscilação está relacionada com a desvalorização do real e a alta do preço do barril do petróleo no mercado internacional, em função do Preço de Paridade de Importação, política adotada pela Petrobras desde 2016.

Além dessa mudança, a estatal adotou, desde então, um plano de desinvestimento. Entre as medidas estão a privatização de oito das 13 refinarias da Petrobras. Subsidiárias, como a BR Distribuidora, a TAG e fábricas de fertilizantes foram vendidas.

Para barrar esse desmantelamento, os petroleiros da Bahia estão em greve desde o último dia 5. Eles protestam contra a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) para a Mubadala Capital, fundo de investimentos de Abhu Dhabi, por US$ 1,65 bilhão.

“Nossa principal luta é contra o processo de privatização em função dos impactos que ela vai causar à sociedade. Na verdade, são impactos que já estamos sentindo, a partir do preço dos combustíveis. Com a privatização, com a entrega desse mercado, a tendência é piorar”, alerta Elizabeth Sacramento, diretora financeira do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), em entrevista ao programa Revista Brasil TVT, neste domingo (14).

Ao mesmo tempo em que os preços dos combustíveis explodem, a Petrobras também anunciou aumento de 9,5% em média na remuneração dos seus executivos. Na mesma linha, a estatal anunciou lucro recorde de 59,9 bilhões no último trimestre de 2020, o que demonstra que haveria espaço para mudanças na política de preços.

Reivindicações

Os petroleiros também reivindicam o fim das práticas de assédio moral dentro da empresa. Em quatro estados – Bahia, Amazonas, no Espírito Santo e São Paulo –, os trabalhadores estão de braços cruzados. “Até o final da próxima semana teremos mais bases aderindo. A greve vem numa crescente”, ressaltou Elizabeth.

Denunciam, ainda, a falta de segurança no local de trabalho. De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), pelo menos 11% dos trabalhadores da Petrobras já foram contaminados pela covid-19, o que representa o dobro da média nacional.

Preço justo

Para conscientizar e angariar o apoio da população, os petroleiros vêm promovendo a venda de combustíveis a preço justo. Nas últimas semanas, em diversos postos do país, motoristas de aplicativo puderam adquirir gasolina por R$ 3,50 o litro. Também realizaram a venda de diesel e gás de cozinha com desconto. Os petroleiros alegam que, como a Petrobras detém o controle de todas as etapas de produção, da exploração ao refino, não é justo atrelar a variação dos preços ao mercado internacional.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria