Será?

No meio da crise, governo anuncia saldos recordes no emprego com carteira

Com economia parada, o saldo de vagas no primeiro bimestre é muito maior do que no período de crescimento. Salário médio cai

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Ministério anuncia chuva de empregos formais, enquanto a economia segue patinando

São Paulo – O Ministério da Economia divulgou nesta terça-feira (30) que o país abriu 401.639 vagas com carteira assinada em fevereiro, somando 659.870 nos primeiros dois meses do ano. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (o “novo” Caged). Um resultado que chama a atenção pelo fato de o mercado de trabalho atravessar séria crise. Mesmo assim, o saldo no primeiro bimestre de 2021 é, de longe, o maior da série recente.

Em 2010, por exemplo, quando o Caged teve seu melhor resultado histórico, o saldo em igual período foi de 413.667. Com isso, o saldo da crise, agora, foi 59% maior do que o registrado quando a economia vinha em pleno crescimento.

Admissão sobe, demissão cai

Apenas em fevereiro, as admissões cresceram 5,1% em relação a igual mês do ano passado, enquanto as demissões caíram 6,8%. No primeiro bimestre, as contratações subiram 14,8% e os desligamentos, 1,5%.

Também na soma de janeiro e fevereiro, o saldo do que o governo chama de “modernização trabalhista”, oriunda da reforma de 2017 – com empregos de maior precariedade e menor grau de proteção –, é de 13.216. São 8.092 do trabalho intermitente e 5.124 do parcial. Já os desligamentos “por acordo” totalizam 34.022.

Setores e salário

Do saldo de fevereiro, 173.547 vagas vieram do setor de serviços. A indústria abriu 93.621 e o comércio, 68.051. A administração pública teve saldo de 59.978 postos de trabalho formais e a construção, de 43.469. A agropecuária criou 23.055.

Já o salário médio de admissão foi de R$ 1.727,04 no mês passado. Cai tanto na comparação com janeiro (-2,7%) como em relação a fevereiro de 2020 (-3,8%).

Dados não comparáveis

Comparados todos os meses de janeiro, de 2010 a 2021, a média de admissões é de 1,488 milhão e a e desligamentos, de 1,427 milhão. Dividido os períodos, a média de contratações cai 11% entre 2010-2015 e 2016-2021. A de demissões cai muito mais: 24%.

Em janeiro, inclusive, o governo chegou a afirmar que teve o “melhor janeiro desde o início da série histórica, em 1992”. Mas os dados não são comparáveis, pela mudança de metodologia. O próprio governo passou a falar em “novo Caged”.

Diferenças significativas

Pesquisadores apontaram diferenças significativas depois que o Caged passou a ter o eSocial como fonte, desde janeiro de 2020. Em outubro do ano passado, o pesquisador Daniel Duque, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Fundação Getúlio Vargas, escreveu artigo apontando “evidências de subnotificação” de desligamentos no Caged. Pelo menos em parte, observou, a manutenção de vagas pode estar relacionada ao programa de redução de salário e da jornada.

Em 12 meses, o saldo, entre contratações e demissões, é de 411.956. Assim, em plena crise, o estoque de empregos formais supera 40 milhões (40.022.748 em fevereiro). No melhor momento, em 2015, era de 41.124.735 vagas com carteira.