Quarta de cinzas

Sem carnaval, Brasil perde R$ 8 bilhões e trabalhadores da cultura são duplamente atingidos

Dieese defende políticas públicas emergenciais e permanentes para amparar os realizadores da maior festa do país e adverte que o carnaval com segurança em 2022 dependerá do esforço para a vacinação de todos

Tomaz Silva/EBC
Tomaz Silva/EBC
"A não realização do carnaval gera impactos sociais, culturais e econômicos que precisam de políticas públicas para que sejam reduzidos e minimizados", defende Victor Pagani

São Paulo – Neste ano totalmente atípico, o carnaval além de perder o caráter festivo, também representou perdas econômicas importantes para o Brasil. Com a suspensão da folia diante da pandemia de covid-19, a estimativa é que o país tenha deixado de arrecadar R$ 8 bilhões. Os dados são do estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) que considera os valores movimentados pelo carnaval de 2020. 

Os prejuízos envolvem toda a cadeia produtiva que realiza o maior evento cultural brasileiro. Pelo menos 70 mil postos de trabalho deixaram de ser criados, 25 mil deles empregos formais na modalidade temporária. Isto é, ocupações de profissionais para atuar em bares, restaurantes e serviços de hotelaria com registro em carteira durante o período de carnaval

Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a perda com a suspensão deve ficar em torno de R$ 2,6 bilhões. O cancelamento do carnaval, contudo, atinge duplamente os trabalhadores do setor cultural formal, envolvidos na produção e até na oferta de serviços, aos informais, como vendedores ambulantes, os catadores de material reciclável que têm um acréscimo na renda durante os dias de festa. 

Duplamente prejudicados

De acordo com o supervisor do escritório do Dieese em São Paulo, Victor Pagani, um levantamento da entidade sobre a empregabilidade do turismo, bares e restaurantes e atividades artísticas apontou que o saldo de admissões e desligamento, já no ano passado, foi negativo, com 350 mil postos de trabalho a menos. “Foi um setores dos mais atingidos pela crise do emprego decorrente da pandemia”, observa Pagani na coluna do Dieese na Rádio Brasil Atual

O que demanda, segundo o supervisor, a implementação de políticas públicas. “Já é um setor que está sendo muito afetado pela pandemia. E a não realização do carnaval – que todo mundo defende porque não tem como fazer o carnaval sem aglomeração e não se pode negligenciar a defesa da vida – gera impactos sociais, culturais e econômicos, o que demanda políticas públicas para que sejam reduzidos e minimizados”, destaca. 

Faltam políticas públicas

Pagani defende a retomada do auxílio emergencial em R$ 600, a continuidade da Lei Aldir Blanc, que beneficia a área cultural, à responsabilidade das grandes empresas que também faturam no período. “A gente vê que desses R$ 8 bilhões, pouco fica com os trabalhadores que fazem realmente o carnaval. Muito disso é apropriado pelas grandes empresas que nesse momento também não podem se furtar da responsabilidade social de dar condições para as pessoas sobreviverem durante esse período”, defende.

Mas também ressalta que, para além de medidas emergenciais, é preciso criar políticas públicas permanentes. O supervisor aponta que o estudo da CNC evidencia o valor imaterial do carnaval enquanto patrimônio nacional. Por isso a importância do financiamento público para a realização desta festa que tem abrangência nacional, uma reivindicação histórica das escolas de samba.

Outro fato primordial, segundo Pagani, é a campanha de vacinação “para todos e o mais rápido possível”. Só assim, garante ele, “poderemos curtir o carnaval em segurança em 2022”, finaliza o supervisor do Dieese. Do contrário, mais perdas podem ocorrer como na cidade de São Paulo, que deixou de movimentar R$ 2,9 bilhões sem a folia. 

Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção. Edição: Glauco Faria