Processo inflacionário

Dieese: queda em educação impediu que a inflação fosse ainda maior

Puxado pela alta dos alimentos e da gasolina, IPCA subiu 0,24% em agosto, registrando a maior taxa para o mês em quatro anos

Arquivo EBC
Arquivo EBC
De acordo com o Dieese, governo Bolsonaro sabia que o país corria o risco de desabastecimento diante da falta de um estoque regulador de preços de alimentos. "Não é uma questão meramente econômica"

São Paulo – Supervisor do escritório do Dieese em São Paulo, Victor Pagani alerta que o Brasil não passa apenas por uma alta nos preços dos alimentos e da gasolina, mas por um processo inflacionário que prejudicará principalmente os mais pobres do país. Dados do IBGE, divulgados nesta quarta-feira (9), mostraram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de agosto apresentou alta de 0,36%. O maior resultado para o mês desde 2012.

Assim como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que variou 0,24% em agosto, ficando abaixo de julho, que registrou 0,36%. Apesar da desaceleração, o IPCA fechou com seu terceiro avanço seguido e sendo o maior resultado para um mês de agosto desde 2016. Com alta puxada sobretudo pelo preço do tomate (12,98%), óleo de soja (9,48), leite longa vida (4,84%) e das carnes (3,33%), assim como do preço dos transportes devido ao aumento do valor gasolina (3,22%), a inflação só não foi ainda maior por conta da queda do preço da educação (- 3,47%). 

“Muitas instituições de ensino aplicaram descontos nas mensalidades devido à suspensão das aulas presenciais por causa da pandemia”, explica Pagani, na coluna do Dieese no Jornal Brasil Atual. Houve recuo também no setor de vestuário (-0,78%). Mas, de acordo com o supervisor do escritório do Dieese, o país tem agora um enorme desafio. 

Inflação e desafios

A começar pelo consumo de alimentos, que ocupa uma parte significativa do orçamento familiar dos mais pobres. Um segmento da população que já é o mais impactado pela crise econômica, agravada pelo novo coronavírus, e depende do auxílio emergencial que, pelo governo de Jair Bolsonaro, pode ser reduzido a R$ 300.

“Quando os preços dos alimentos aumentam, essas famílias sofrem um impacto mais direto e mais importante. Com a redução do auxílio, que vai ser cortado pela metade, vamos ter um agravamento desse problema. E quando olhamos para os produtos que estão tendo as maiores altas, é possível ver que são produtos cuja substituição é muito difícil. Como é que você vai substituir o arroz, o leite? Os itens que tiveram queda de preço, vestuário, calçados, são possíveis de substituir, adiar uma compra. Os alimentos não tem como”, destaca Pagani. 

Outro desafio que o processo inflacionário coloca é sobre as negociações coletivas, em especial em relação àquelas que serão realizadas neste segundo semestre. O supervisor do escritório do Dieese nota que há uma grande dificuldade em se fazer a reposição da inflação. 

“Às vezes fica parecendo que é uma questão meramente econômica, mas isso é resultado de decisões políticas que foram tomadas pelo atual governo, que não deu ouvidos aos alertas que foram dados tanto pelo Congresso Nacional como por movimentos sociais e sindicais, de que corríamos o risco de um desabastecimento por falta de financiamento, de incentivos e de um estoque público regulador de preços dos produtos alimentícios, sobretudo dos grãos”, analisa Pagani.

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção. Edição: Glauco Faria