RISCO NO LONGO PRAZO

Tereza Campello: ‘Corte do auxílio emergencial coloca país em situação dramática’

Ex-ministra diz que governo Bolsonaro deixa de garantir a comida na mesa de vulneráveis ao fazer redução, que também ajuda a desaquecer a economia

Marcello Casal/Agência Brasil
Marcello Casal/Agência Brasil
Dos 68,9 milhões de domicílios do país, 36,7% estavam com algum nível de insegurança alimentar, atingindo, ao todo, 84,9 milhões de pessoas

São Paulo – O corte do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300, realizado pelo governo Bolsonaro, criará um problema a longo prazo ao Brasil. A redução deixa de garantir a comida na mesa das famílias vulneráveis e desaquece a economia, o que ampliará a recessão. A avaliação é da economista e ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello.

De acordo com o IBGE, em 2018, a insegurança alimentar grave esteve presente nos lares de 10,3 milhões de pessoas. Dos 68,9 milhões de domicílios do país, 36,7% estavam com algum nível de insegurança alimentar, atingindo, ao todo, 84,9 milhões de pessoas.

Com o corte do auxílio emergencial e sem a garantia da continuidade do benefício em 2021, Tereza afirma que os danos podem ser ainda maiores, já que a previsão é de maior contração econômica.

“O auxílio emergencial, além de ser uma renda fundamental para as famílias, garante a economia funcionando. O setor empresarial deveria apoiar a manutenção do programa e de políticas que garantam renda à população. A redução do auxílio emergencial coloca o Brasil em uma situação dramática”, afirmou, no programa Brasil TVT, da TVT.

De volta à 2002

A economista lembra que o principal fator que tirou o Brasil do mapa da fome, durante o governo Lula, a partir de 2003, foi o investimento público aos programas sociais,como o Fome Zero e Bolsa Família. Entretanto, o governo Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, atualmente, defendem o Teto de Gastos e congelamento do investimento inclusivo.

“Os próprios analistas neoliberais, o Banco Mundial, todos estão orientando que os países precisam executar ações expansionistas na política fiscal. Sem isso, não teremos retomada econômica. Sem isso, continuaremos num ciclo de recessão, com aumento de desemprego”, critica Tereza.

A ex-ministra lembra que que o Brasil já conta com quase 31 milhões de brasileiros desempregados. Para ela, caso a atual política econômica do governo federal continue, o Brasil voltará ao período que antecedeu o governo Lula.

“Quando Lula assumiu, em 2003, havia 35% da população em situação de insegurança alimentar, de acordo com o IBGE. Em 2013, esse número caiu para 22%. Agora, voltamos para 36,7%. O Brasil, em 2018, está pior do que antes do Lula assumir, ou seja, o fim do investimento inclusivo traz impactos muito altos”, acrescentou.