Desalento geral

País tem aumento do desemprego e vê crescer o exército de excluídos

Além de 12,7 milhões de desempregados, pela primeira vez ocupados são menos da metade da população em idade de trabalhar. Desalento sobe e perda na renda é de quase R$ 11 bi

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
Comércio, construção, indústria: emprego caiu em quase todos os setores, atingindo tanto o trabalho formal como o informal

São Paulo – A taxa de desemprego segue crescendo no Brasil e atingiu 12,9% no trimestre encerrado em maio, segundo informou hoje (30) o IBGE. Com isso, o total de desempregados foi estimado em 12,710 milhões, 368 mil (3%) a mais. Mas outro dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua chama a atenção e preocupa: pela primeira vez, o total de ocupados entre a população em idade de trabalhar ficou abaixo de 50%. Isso significa que, mais que desempregados, o mercado está criando excluídos. Sem contar a perda em salários, que chegou perto de R$ 11 bilhões em um trimestre.

Segundo o instituto, em maio havia 173,610 milhões em idade de trabalhar, enquanto os ocupados somavam 85,936 milhões (49,5%, queda de cinco pontos percentuais). O total de ocupados caiu 8,3% apenas em um trimestre: menos 7,774 milhões de pessoas. Em relação a maio do ano passado, a queda foi de 7,5% (menos 7,011 milhões). Nos dois casos, as quedas foram recordes.

“Pela primeira vez na série histórica da pesquisa, o nível da ocupação ficou abaixo de 50%. Isso significa que menos da metade da população em idade de trabalhar está trabalhando. Isso nunca havia ocorrido na Pnad Contínua”, afirma a analista do IBGE Adriana Beringuy.

Fora do mercado

Ainda na comparação com maio de 2019, o número de desempregados ficou estatisticamente estável, segundo o instituto – eram 12,343 milhões há um ano. E o total de pessoas fora da força de trabalho cresceu 15,9% (acréscimo de 10,279 milhões, para um total aproximado de 75 milhões).

A chamada população subtilizada chegou a 30,4 milhões, recorde da série história. São 3,6 milhões a mais no trimestre (13,4%) e 1,8 milhão em 12 meses (6,5%). Essas são as pessoas que gostariam de trabalhar mais, mas não conseguiram. A taxa de subutilização, também recorde, atingiu 27,5%.

Outro recorde foi da população desalentada. Com aumento trimestral de 15,3% e anual de 10,3%, chegou a 5,4 milhões. Em relação à força de trabalho, representam 5,2%.

Trabalho informal também cai

O número de empregados com carteira de trabalho se reduziu para 31,103 milhões, menor número da série. Queda de 7,5% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro (menos 2,5 milhões) e de 6,4% em um ano (menos 2,1 milhões). Já os empregados sem carteira também caíram, mostrando a fraqueza da economia, e agora são 9,218 milhões. Queda de 20,8% e 19,9%, respectivamente, aponta o instituto.

Também diminuiu o número de trabalhadores por conta própria. Eles agora são 22,415 milhões, retração de 8,4% no trimestre (-2,062 milhões) e de 6,7% em um ano (1,618 milhão). Entre os trabalhadores domésticos, a diminuição foi ainda mais severa, de 18,7% e 18,6%. Com perda acima de 1 milhão de empregos, eles agora somam 5,074 milhões.

Com esses resultados, a taxa de informalidade caiu para 37,6%, com 32,3 milhões de pessoas, o menor número da série. Há um ano, a taxa era de 40,6%.

Rendimentos

O rendimento médio habitual foi estimado em R$ 2.246, alta de 3,6% no trimestre e de 4,9% em comparação com maio de 2019. Sinal de que o mercado vem excluindo, pelo menos agora, pessoas de menor remuneração. Com a queda na ocupação, a massa de rendimentos caiu 5% em três meses e 2,8% em 12, sendo calculada em R$ 206,636 bilhões. Em um trimestre a perda equivale a R$ 10,939 bilhões.

Entre os setores de atividade, nove tiveram queda da ocupação no trimestre e apenas um cresceu. O que inclui administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais: alta de 4,6%, acréscimo de 748 mil pessoas.

A indústria eliminou 1,230 milhão de vagas, queda de 10,1%. Na construção, a retração foi ainda maior, de 16,4%, com fechamento de 1,083 milhão de vagas. O setor de comércio/reparação de veículos caiu 11,1%. A situação se repete na comparação anual.