Estrutura deficiente

Sistema de saúde e realidade de moradia mostram contrastes do país na pandemia

Segundo o IBGE, 18 milhões vivem em locais com mais de três pessoas por dormitório. Proporção de leitos de UTI por 100 mil habitantes varia de quatro a 30

Marcelo Seabra/Ag. Pará/Fotos Públicas
Marcelo Seabra/Ag. Pará/Fotos Públicas
Funcionários de hospital no Pará comemoram recuperação de pacientes: desafio cotidiano cresceu

São Paulo – Concentrações urbanas, muita gente morando em pouco espaço e estrutura desigual do sistema de saúde são alguns dos problemas identificados em levantamento feito pelo IBGE e divulgado nesta quinta-feira (7). Segundo o instituto, 18,4 milhões de pessoas, quase 10% da população, moravam em 2019 em domicílios com mais de três pessoas por dormitório.

Essa característica é mais marcante em alguns estados da região Norte e no Maranhão, no Nordeste. Mas as diferenças podem ser observadas mesmo nas metrópoles, observa o coordenador de Geografia e Meio Ambiente do IBGE, Cláudio Stenner. “Em áreas de aglomerados subnormais, como em partes da Rocinha, este indicador chega a 19%, contrastando com o percentual de 1,6% em partes de Copacabana, ambos no Rio de Janeiro”, aponta.

De acordo com os dados, no ano passado o Distrito Federal apresentava a melhor distribuição de médicos no país: 338 profissionais a cada 100 mil habitantes. Em seguida, vinham São Paulo (260), Rio (248), Rio Grande do Sul (244) e Espírito Santo (223). Na outra ponta, o Pará estava com 85 médicos a cada 100 mil habitantes e o Maranhão, com 81.

Enfermeiros e médicos

“Os números também mostram a distribuição de médicos em regiões com mais de 500 mil habitantes que possuem um polo que é  referência regional nos atendimentos de saúde de média e baixa complexidade”, informa o IBGE. “Santarém, no Pará, tem uma população de 786 mil habitantes e índice de somente 58 médicos por 100 mil habitantes. Irecê, na Bahia, vem em seguida com 512 mil habitantes e 60 médicos.”

“O recomendável são 80 médicos generalistas por 100 mil habitantes. Entretanto, esse parâmetro é válido para uma situação de normalidade”, diz Stenner, do IBGE. “Neste momento de pandemia, essa recomendação deve ser relativizada, pois a demanda pelo sistema de saúde é maior.”

Já a distribuição de enfermeiros também é maior na capital do país, com 198 a cada 100 mil pessoas. Na sequência, aparecem Tocantins (178), Paraíba (149), São Paulo (143), Rio (140) e Rio Grande do Sul (138). Os estados com menor índice são Pará (76), Alagoas e Goiás (101), Sergipe (102) e Amazonas (103).

Respiradores e UTIs

Os números do IBGE, que cruza dados de várias fontes, mostra ainda desigualdade na distribuição de respiradores. Mais uma vez, o Distrito Federal aparece à frente, com 63 aparelhos a cada 100 mil habitantes. Depois vêm Rio (42), São Paulo (39), Mato Grosso (38) e Espírito Santo (35). Com menos respiradores, Amapá (10), Piauí (13), Maranhão (13), Alagoas (15) e Acre (16).

Entre as regiões com mais de 500 mil habitantes, Santarém figurou com apenas sete aparelhos. Na região de Governador Nunes Freire (MA), com 149 mil habitantes, nenhum.

Entre as unidades da federação, o Distrito Federal tinha em 2019 um total de 30 leitos de UTI a cada 100 mil habitantes. Em seguida, vinham Rio (25), Espírito Santo (20), São Paulo (19) e Paraná (18). Roraima tinha apenas quatro. Outros estados menos equipados eram Amapá e Acre (cinco leitos), Amazonas e Piauí (sete) e Tocantins, Maranhão e Pará (oito).