Governo ocioso

Capacidade produtiva da indústria cai e destrói os melhores postos de trabalho

Sem plano de reconversão ou reposicionamento, desindustrialização avança e governo mostra não ter planos nem para tempos de pandemia, nem para depois

Ricardo Almeida / ANPr
Ricardo Almeida / ANPr
Capacidade ociosa na indústria é a maior em quase 20 anos

São Paulo – A crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus levou a indústria brasileira a registrar o seu menor patamar de ocupação em pelo menos 20 anos. O contexto atual agrava a trajetória de redução da capacidade industrial e da importância do setor no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O problema, segundo o Dieese, é que o governo federal não tem planos, nem no curto, nem no longo prazo.

Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (4) pela Fundação Getulio Vargas aponta que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) atingiu 57,5%, em abril. É menor valor da série histórica, iniciada em janeiro de 2001. Vestuário, couros e calçados, além de veículos estão entre os seguimentos mais afetados do setor.

Para o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, a queda na capacidade industrial já era esperada, em função da pandemia. Por conta do isolamento social, as pessoas consomem menos, e decisões para a aquisição de produtos acabam sendo adiadas.

“O que preocupa é que a indústria já vinha em queda já muito tempo, perdendo participação no PIB. Agora esse processo deve se intensifica. Empresas começam a quebrar, fechar e desaparecer. Assim, a capacidade produtiva vai diminuindo”, afirmou na Rádio Brasil Atual, nesta terça-feira (5).

Na década de 1980, a participação industrial era de 30% do PIB. Atualmente, é de apenas 10,4%. 

Sem saída

Uma das estratégias para fortalecer o setor, no curto prazo, seria a adoção de planos de reconversão industrial. Cadeias de produção sofreriam alterações para atender a demanda decorrente da pandemia, produzindo máscaras, respiradores, dentre outros insumos hospitalares e farmacêuticos.

No longo prazo, diversos países discutem trazer de volta para as suas próprias fronteiras indústrias que foram movidas para outros países, como a China, em função do custo da mão de obra. O Japão, por exemplo, está investindo mais de US$ 1 trilhão renacionalizar parte da sua produção, segundo Fausto.

“Estamos num desses momentos que devem mudar muito a economia global. O Brasil devia estar preparado. É bastante assustador observar como o governo federal hoje desconsidera tudo isso. Como não existe planejamento e organização sequer para lidar com a pandemia, menos ainda nessa discussão estrutural.” Na ausência do governo, trabalhadores, empresas e a sociedade civil devem estar à frente dessas discussões, segundo o diretor do Dieese.

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