Readaptação

Falta de insumos hospitalares levanta debate sobre a reconversão industrial

Alto preço do dólar e problema com a importação de equipamentos mostra a importância de fortalecer a indústria local

AGÊNCIA BRASIL
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Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) encaminhou para empresas e ao governo de São Paulo, sugestões que reconfiguram a indústria local para a produção de materiais médicos

São Paulo – Desde o início da pandemia do coronavírus, hospitais públicos e privados sofrem com a falta de insumos e equipamentos para ajudar na proteção dos profissionais saúde e tratar pacientes. O cenário abriu o debate sobre a reconversão industrial no país, que poderia ajudar no combate à covid-19.

O problema de falta insumos afeta diversos países que dependem da importação de equipamentos hospitalares. A crise acendeu um alerta e despertou questionamentos acerca da capacidade de, rapidamente, se alterarem as unidades industriais ara fabricar esses produtos, agora demandados e não mais disponíveis em quantidade suficiente no mercado externo.

“A indústria brasileira tem experiência, tem conhecimento do assunto e corpo técnico nas universidades totalmente capacitado para compreender e organizar o processo produtivo. Do ponto de vista técnico, não há impedimento”, explica o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marco Antônio Rocha, à repórter Dayane Ponte, no Seu Jornal, da TVT.

A reconversão industrial se refere à adaptação e à reorientação da indústria local às exigências sociais e econômicas de um novo período, alterando o conteúdo de produção de determinada indústria. 

“O Brasil perdeu muita participação na produção estrutural do setor de saúde. Nunca produziu grandes equipamentos sofisticados e perdeu os que exigem média tecnologia, sendo sugado pela potência chinesa. O movimento sindical já disse que o Brasil precisa dar novos passos para se reindustrializar”, afirma Rafael Marques, presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID-Brasil).

Em países como Reino Unido e Estados Unidos, montadoras passaram a produzir respiradores. Já no Brasil, usinas do setor sucroalcooleiro e fabricantes de cervejas fizeram a doação de álcool em gel ao Sistema Únido de Saúde (SUS).

“O complexo de saúde tem um potencial imenso na demanda pública, na geração de empregos e na capacitação produtiva, científica e tecnologia para o Brasil. A pandemia é uma lição didática para olharmos a saúde como forma de assegurar o bem-estar e também como um setor de geração de empregos”, avalia o economista da Unicamp.

Algumas iniciativas para a reconversão industrial já estão acontecendo no país. A exemplo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que encaminhou para empresas e ao governo de São Paulo, sugestões que reconfiguram a indústria local para a produção de materiais médicos. “A ideia é fazer a reconversão do parque industrial parado para atender e ajudar no combate ao coronavírus. Por outro lado, ao fazer isso, você gera receita no parque parado para as empresas, além de preparar o país para internalizar a produção que, hoje, depende de outros países”, explica Wellington Damasceno, diretor executivo do sindicato.

Já Rafael Marques acrescenta que o alto preço do dólar deveria influenciar na decisão de fortalecimento da indústria local. “Com o câmbio nesse patamar, viabiliza ainda mais pensar na reindustrialização. Tem que haver um esforço dos bancos públicos e do governo para criar incentivos, principalmente na área de tecnologia.”

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