Turbulência

Após desistência da Boeing, Estado deve atuar para retomada da Embraer

Para preservar empregos e dada a importância para o desenvolvimento tecnológico do país, uma das saídas seria a reestatização da empresa

Arquivo/Agência Brasil
Arquivo/Agência Brasil
Para venda à Boing, empresa teve custos preparatórios de cerca de R$ 500 milhões

São Paulo – A companhia aeronáutica norte-americana Boeing anunciou no sábado (25) que rescindiu acordo de US$ 4,2 bilhões para adquirir a divisão de aviões comerciais Embraer. A empresa brasileira diz agora que vai à Justiça por conta dos danos sofridos pelo cancelamento indevido. Nesta segunda (27), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o governo pode negociar a venda da Embraer para outra empresa.

Para ser vendida aos americanos, a Embraer foi dívida em três. Além dos aviões comerciais, a empresa também produz jatos particulares e modelos militares. Esse arranjo para atender aos interesses dos compradores já custou cerca de R$ 500 milhões à empresa brasileira, que agora vai lutar para receber multa prevista de US$ 75 milhões pela rescisão do contrato.

A gigante norte-americana já vinha enfrentando problemas, por conta dos acidentes e avarias no seu modelo 737 Max. A situação econômica da empresa deteriorou ainda mais em função da pandemia de coronavírus, que derrubou as encomendas por novas aeronaves. Diretores da Embraer afirmaram que os executivos da Boeing utilizaram “detalhes contratuais mínimos” para inviabilizar o acordo.

Papel do Estado

Para o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, será necessário que o Estado participe do processo de “aterrissagem” da Embraer de volta ao Brasil. Não está descartada a proposta de reestatização da empresa, que pode se der em dois modelos. No modelo clássico, a empresa passaria para o controle estatal, aos moldes da Petrobras. Ou então, o Estado brasileiro poderia adquirir parte das ações da Embraer, por meio do BNDES Participações, por exemplo.

Segundo Fausto, a importância da Embraer vai muito além da manutenção dos empregos qualificados no Brasil e da venda de produtos com de alto valor agregado no mercado nacional. A ex-estatal, única empresa aeroespacial da América Latina, é um importante núcleo de desenvolvimento de novas tecnologias, que acabam “transbordando” para outros setores da indústria.

“Ter uma empresa como a Embraer é fundamental para o Brasil conseguir fazer uma disputa em diversos setores que estão colocados nessa discussão da produção de conhecimento. Ao mesmo tempo, um dos grandes desafios é ver como vamos aterrissar essa empresa. Estamos falando de mais de um ano de negociações. Significa não apenas uma série de custos, mas também uma série de projetos de produtos que a empresa deixou de formular ao longo desse período”, afirma Fausto, em comentário na Rádio Brasil Atual.

O que preocupa, segundo ele, é que o atual governo já revelou não ter apreço pela ciência e tecnologia. “Nesse momento, é necessário que a sociedade, movimentos sociais e sindicatos pressionem para manter a empresa dentro do país, e que a gente possa se aproveitar do que ela traz de bom em termos de desenvolvimento tecnológico e o aproveitamento dessa tecnologia em outras áreas.”