Presente e futuro

Contra a crise, metalúrgicos do ABC apresentam projeto de reconversão industrial

Sindicatos, universidades, prefeituras e empresas se unem em busca de caminhos. Projeto na Câmara dá rumos e nacionaliza o tema

Adonis Guerra/SMABC
Adonis Guerra/SMABC
Metalúrgicos buscam alternativas para combater falta de equipamentos e descobrir alternativas de produção industrial

São Paulo – Uma alternativa para o setor industrial, que já vinha sendo discutida, ganhou nova dimensão com a crise do coronavírus. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC apresentou propostas para implementar, com urgência, uma política nacional de reconversão, apontando recursos federais para garantir o custeio e fomentar iniciativas.

É um “esforço de guerra”, define Wellington Messias Damasceno, diretor executivo do sindicato, que vê na crise uma oportunidade para descobrir e desenvolver setores – além de atender, de imediato, uma carência de equipamentos hospitalares. “A gente já vinha com essa discussão antes da pandemia. Em alguns segmentos, a reconversão seria interessante. Agora, pode suprir essa necessidade com mais força e reduzir a dependência de importação”, observa.

Os metalúrgicos levaram o debate para o Consórcio Intermunicipal e para a Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, que na semana passada realizaram a primeira reunião do chamado Grupo de Trabalho Reconversão Industrial, com a presença de unidades, sindicatos, prefeituras e empresas. “Precisamos fazer um mapeamento das necessidades (de insumos). E quais os processos necessários para chegar naquele produto”, explica Damasceno.

Parque industrial

Ao movimento sindical, caberá apontar possíveis opções no parque industrial da região. Em um primeiro sondagem, setores de vestuário e da área eletrônica aparecem como alternativas, para confecção de itens como máscaras, aventais e respiradores. São caminhos novos, diferentes de setores que vinham sendo analisados antes da crise, como os de defesa, eólico e de petróleo e gás.

E aí aparece o segundo ponto da discussão, que é a viabilização financeira dos projetos. “O governo precisa bancar”, defende o sindicalista, lembrando que as empresas enfrentam dificuldade de caixa. Por isso, o sindicato propôs o uso de duas fontes, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e o Fundo de Garantia para a Promoção de Competitividade, que parecem mais viáveis que caminhos tradicionais, como o BNDES.

“Esses fundos combinam com a nossa proposta e os recursos já estão disponíveis”, diz Wellington. Um projeto de lei nesse sentido acaba de ser apresentado pelo deputado Helder Salomão (PT-ES), professor e ex-secretário estadual. “O projeto atende a uma demanda que é federalizar essa questão. Você provoca uma articulação nacional em torno desse mapeamento. Está faltando a ação prática, e o PL vai dr condições”, acrescenta.

Segundo o dirigente, algumas ações importantes estão sendo feitas, como no caso de montadoras, mas ele avalia que se tratam de iniciativas isoladas e é preciso organizar uma política articulada, de escala e em nível nacional. O desafio imediato é conseguir incluir o projeto na pauta da Câmara, para votação urgente. Ele acredita que o sucesso da iniciativa pode abrir caminhos e expandir o mercado, inclusive externo.

“Se a gente consegue dar escala e atender ao nosso sistema de saúde, pode ser uma saída para o pós-pandemia. Pode ser uma grande oportunidade de salvar vidas, proteger os profissionais e criar um novo polo de produção.”

Universidades da região têm trabalhado no desenvolvimento da produção de máscaras e outros equipamentos de proteção industrial (EPIs). Movimentos sociais também se mobilizam para ajudar a rede pública e setores vulneráveis, caso de programa desenvolvido por costureiras da região do ABC.


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